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25 de jun. de 2025

Artigo de Opinião - Tempos de guerra e tempos de paz - por Mauro Nadvorny

Artigo de Opinião 



Foram duas semanas de guerra. Entradas e saídas do quarto seguro dia e noite. Todos se sentindo como zumbis, devendo horas de sono. E não é apenas poder dormir, é poder ter um descanso. Finalmente acabou.

A volta ao dia a dia não é tão simples. Nem todo mundo acredita  que o Irã vai respeitar o cessar-fogo. Nem todo mundo consegue sair de casa depois do sufoco que passaram. Nem todo mundo tem casa para voltar. Existem milhares de desabrigados espalhados pelas cidades atingidas vivendo em hotéis disponibilizados pelas prefeituras. Alguns sem lenço e sem documento, somente com a roupa do corpo. Tudo foi perdido na explosão do míssil balístico, mas as vidas foram preservadas.
Alguns dos prédios atingidos vão poder ser reformados, outros estão condenados e terão de ser demolidos. Até que sejam reconstruídos, a vida será em um quarto de hotel ou em casas alugadas.
Com esta guerra concluída, nos voltamos para a guerra remanescente em Gaza que se aproxima de dois anos. Se nos minutos finais antes do cessar-fogo, um míssil matou 4 pessoas, ontem à noite, uma bomba plantada pelo Hamas matou 7 soldados.
É preciso terminar com a operação em Gaza que não se justifica mais. Claro que mediante um acordo que traga de volta nossos reféns e não permita ao Hamas voltar a governar o território. Este é o único fim possível e que deve ser implementado o quanto antes. Precisamos voltar a viver em paz.
Nós brasileiros não temos este tipo de violência (guerras)no Brasil, temos outra que na minha opinião, é bem pior. Enquanto aqui com 530 mísseis balísticos disparados morreram cerca de 30 pessoas, no Brasil morrem por dia 106 (dados de 2024) pessoas vítimas da violência. Durante os 12 dias da guerra aqui em Israel  morreram no Brasil cerca de 1270 pessoas.
Foi um período estressante, mas as coisas funcionaram. Sempre fomos avisados de que mísseis estavam a caminho com antecedência. Permanecemos no quarto seguro até chegar o aviso de liberação, tudo pelo celular. Nos locais atingidos a ajuda chegou em menos de 5 minutos. Vidas puderam serem salvas por conta deste pronto atendimento coordenado de ambulâncias, bombeiros, resgatistas e polícia.
Durante todos estes dias, locais de venda de comida e farmácias permaneceram abertos. A maioria das famílias permaneceram próximos de casa e saindo nos intervalos entre uma e outra onda de mísseis.
Nada disso foi agradável, e eu procurei escrever algumas mensagens na minha página do Facebook para dar uma noção aos amigos de como as coisas estavam acontecendo.
Moro entre Tel Aviv e Haifa, quase que na metade do caminho e aqui na minha cidade não fomos atingidos. Próximo de nós sim.
É preciso ressaltar que o Irã jogou seus mísseis nas nossas cidades para matar civis, não contra objetivos militares, ou alvos que podem ser assim considerados.
Neste 12 dias, nossa Força Aérea trabalhou dia e noite a uma distância entre 1500 e 2000 km de casa, 24 horas por dia. Nenhum avião foi abatido, todos os pilotos voltaram para casa. Esta é mais uma façanha israelense.
Tiramos de nossos ombros uma ameaça vital. O Irã prometia acabar conosco há muitos anos. Espalharam seus tentáculos por todo Oriente Médio com proxis que lhes são leais. O que faltou, mas espero que a semente tenha sido plantada, foi derrubar o regime teocrático dos Aiatolás. Tomara o povo iraniano se levante e derrube esta ditadura.



11 de out. de 2023

Artigo de Opinião: Ah, vocês, os antissemitas. por Mauro Nadvorny - créditos A Voz da Esquerda Judaica

Artigo de Opinião. Créditos A Voz da Esquerda Judaica






Todos sabem que a morte de civis em uma guerra é deplorável. Existem convenções internacionais supostamente para proteger essas vidas. No papel, tudo está muito bem explicado e justificado, mas na vida real não é o que acontece.

A guerra na Ucrânia está aí para provar o que significa o desrespeito às mais elementares regras de proteção a ida dos civis. A Rússia vem atacando cidades, dizimando vilas e aldeias, bombardeando hospitais, escolas e prédios urbanos incessantemente. Nenhum deles é algo próximo de um alvo militar justificável.

Soldados russos estupraram mulheres e abusaram de crianças. Mataram civis a sangue frio e sequestraram crianças. Tudo documentado, filmado e com a complacência de setores da esquerda.

Durante todos esses meses de guerra, a esquerda se colocou ao lado do agressor, justificando seus atos como necessários para livrar o mundo de um suposto governo nazista que havia se instalado na Ucrânia, ameaçando a paz mundial. Todas as atrocidades seriam justificáveis em uma situação de guerra, como efeitos colaterais inerentes a uma zona de combates.

No último sábado, uma força com cerca de 1500 membros do Hamas destruiu a cerca que separa a Faixa de Gaza de Israel em diversos pontos e invadiu o país com um único objetivo: matar e sequestrar o maior número possível de civis.

Muito próximo da cerca, estava sendo realizado um evento musical com a participação de 3000 jovens. Eles foram atacados. No ataque, 260 deles foram assassinados, e um número ainda desconhecido foi sequestrado.

As aldeias próximas também foram invadidas. Em uma única delas, 100 civis mortos, homens, mulheres, crianças, idosos, ninguém foi poupado. Quando o exército chegou, só restava recolher os corpos. Muitos deles estavam queimados, mutilados e alguns, inclusive bebês, com a cabeça decepada.

Somados os mortos até agora, passamos de 1200, com 4500 feridos e um número ainda não confirmado de cerca de 150 sequestrados.

Mais de 5 mil foguetes foram disparados nas primeiras horas contra as cidades israelenses e continuam até o dia de hoje.

Neste sábado que passou, 7 de outubro de 2023, às 6:00 da manhã, o Hamas declarou guerra a Israel com uma operação muito bem planejada e levada a cabo com certa facilidade. Os serviços de inteligência israelenses não previram o que estava por acontecer.

Passadas as primeiras horas, Israel começou a tomar ciência da gravidade do que estava ocorrendo e as forças de segurança começaram a se mobilizar. Bombardeios a Gaza tiveram início com o uso da força aérea. Israel declarou guerra para poder mobilizar os reservistas e em 48 horas, 300 mil se apresentaram.

Os bombardeios a Gaza, por mais que estejam sendo direcionados aos locais de permanência ou frequentados por membros do Hamas, também têm efeitos colaterais, e civis estão sendo atingidos com mortos e feridos.

A mesma esquerda que apoia Putin se manifestou: Israel estava atacando os palestinos em Gaza! O mundo precisa condenar o estado assassino! Palestinos estão sendo mortos!

Até este momento, eu tinha uma dúvida sobre a possibilidade da existência de uma esquerda fascista. Essa dualidade seria uma aberração semântica e ideológica. Impossível, pensava eu. Mas eis que me deparei com a realidade.

A princípio, parece contraditório ser de esquerda e fascista ao mesmo tempo, uma vez que essas duas ideologias políticas possuem princípios e valores muito diferentes. A esquerda geralmente defende ideais de igualdade, justiça social, além de uma maior intervenção do Estado na economia para proteger os direitos dos trabalhadores e das minorias. Por outro lado, o fascismo é uma ideologia de extrema direita que promove autoritarismo, nacionalismo extremo e desrespeito aos direitos individuais em favor do Estado.

No entanto, é importante lembrar que a política é muitas vezes complexa e multifacetada. Pode haver pessoas ou grupos que se identificam como de esquerda em algumas questões, como economia e intervenção do Estado na economia, mas que também apoiam políticas autoritárias, nacionalistas ou discriminatórias, que são mais características de ideologias de extrema direita.

Nesses casos, elementos que se promovem como de esquerda são uma mistura de diferentes ideologias políticas. A chave aqui é o fator antissemitismo, antes relacionado à extrema direita e agora cooptado por essa esquerda fascista, mas que na verdade, é o que une os dois extremos.

A esquerda que condena Israel neste momento, alheia ao massacre perpetrado pelo Hamas, é fascista. Uma esquerda antissemita que apoia um regime fundamentalista que humilha as mulheres, persegue a minoria LGBT+, não permite a existência de oposição e não promove eleições desde que chegaram ao poder, justamente vencendo a última delas.

Para uma pessoa de esquerda apoiar políticas autoritárias, nacionalistas e discriminatórias, conceitos típicos do fascismo, somente sendo antissemita. Isto é o que explica o contraditório. Esta é a realidade que eu não acreditava possível.

Todo esse tempo, essa esquerda fechou os olhos e tampou os ouvidos para o que acontece na Ucrânia, mas bastou Israel revidar a agressão criminosa do Hamas para levantarem sua voz. Sim, a hipocrisia tem nome: antissemitas.

3 de jun. de 2021

Meu amigo judeu - artigo de opinião de Mauro Nadvorny

 

Meu amigo judeu

7 min read

Todo antissemita tem um amigo judeu. É uma característica deles. Se dizem contra o Estado Nazista de Israel, contra os judeus que lá vivem, são sempre antissionistas fervorosos. Os de esquerda em especial não sabem que foi graças as armas fornecidas pela Checoslováquia, um satélite comunista da então União Soviética, que Israel pode vencer a guerra da Independência. Mas isto já é outra história.

Mal acabou mais um conflito entre Israel e Gaza e novamente os antissemitas de plantão fizeram a festa carregando consigo os que de boa fé apoiam um Estado Palestino. Foram 219 mortos em Gaza e 10 em Israel, o suficiente para acusar o Estado Sionista de genocídio. O fato de que desta vez tudo explodiu com o lançamento de foguetes contra Jerusalém, é apenas um detalhe. Que o conflito interessava politicamente o atual governo israelense e o Hamas, outro mero detalhe.

Vejamos entretanto o que está acontecendo no mundo para se ter uma ideia da desproporção dos ataques que inundaram o Twitter com a hashtag  #hitlertinharazão. Sim, muita gente de esquerda que se diz apenas antissionista, ajudou a subir esta hashtag.

De acordo com o Programa Mundial de Alimentos, PMA da ONU, Mais de 31 milhões de pessoas devem enfrentar insegurança alimentar na África Ocidental e Central. Ela pede uma ação imediata para evitar que a falta de comida cause uma situação de catástrofe

A agência alerta que a temporada de escassez vai de junho a agosto deste ano, antes da próxima colheita. Vocês sabiam disso? Estão ajudando a evitar a fome deste contingente humano?

Ainda na África, centenas de moçambicanos estão tentando escapar da violência dos recentes ataques de grupos armados extremistas islâmicos, em Palma. Eles estão encontrando abrigos temporários com apoio do governo de Moçambique, da ONU e parceiros internacionais.

A Organização Internacional para Migrações, OIM, informou que até a quinta-feira, quase 14 mil pessoas foram cadastradas num Centro de Trânsito e Acolhimento em Pemba, capital da província de Cabo Delgado. As chegadas aumentam a cada dia. Algum antissemita, ou antissionista está apoiando os grupos extremistas islâmicos contra o governo de Moçambique?

Seis anos de conflito no Iêmen já deixaram 80% da população abaixo da linha da pobreza. O país enfrenta a maior crise humanitária do mundo: 66% da população precisa de assistência para sobreviver e 16 milhões de pessoas sofrem com a fome. O conflito armado já matou e feriu mais de 100.000 pessoas. Vocês que atacam os judeus, estão ajudando a população do Yêmen?

Vamos falar de Myanmar. Segundo o El País, “Mergulhado há décadas em várias guerras civis com guerrilhas formadas por minorias étnicas, Mianmar vê aumentarem as possibilidades de um conflito maior ante a espiral de violência e anarquia gerada após o golpe de Estado de fevereiro passado. Com mais de 500 mortos pelos ataques de policiais e militares contra os manifestantes que pedem a volta da democracia, e a fuga de milhares de birmaneses a países como Tailândia e Índia, o país enfrenta um dilema impossível: ou se opor ao Tatmadaw ―o Exército birmanês― ou se render ante os golpistas. A segunda opção tem sido descartada por algumas das guerrilhas mais poderosas da antiga Birmânia, que, em diálogos com o Governo civil na clandestinidade, concordam em se unir para formar um exército federal que possa afastar do poder as forças armadas do general golpista, Min Aung Hlaing.” Onde está a esquerda para apoiar o povo de Mianmar na sua luta por democracia?

E a Síria onde o conflito deixou em 10 anos mais de 380 mil mortos e levou 1,5 milhão de refugiados Sírios a abandonarem o país? Nas eleições presidenciais desta semana, Bashar Al-Assad ganhou com incríveis 95% dos votos. Posso estar equivocado, mas penso não ter visto nenhuma manifestação de qualquer partido político brasileiro, ou de seus líderes contra esta fraude.

Para fechar, que tal a gente falar da Bielorrússia? Lá, Alexander Lukashenko tem sido o seu presidente desde 1994. Em todas as eleições ele ganha sempre com ampla maioria dos votos. Na última, realizada em 2020, venceu com 80% . A população bem que tentou protestar, mas não recebeu nenhum apoio internacional contundente. Esta semana o país voltou as manchetes ao sequestrar um avião da Ryanar para deter um jornalista de oposição e sua companheira. Novamente preciso perguntar aqui quantas manifestações da esquerda contra este ato de terrorismo de estado foram vistas?

Hora de voltar a falar do “Meu Amigo Judeu”. É verdade que existem comunidades judaicas em quase todos os países do mundo, em maior ou menor número. Elas costumam ser organizadas e atuantes em seus países. Os judeus são sempre uma pequena parcela da população, mas parecem representar muito mais do que são de fato. No Brasil são cerca de 100 mil, mas há quem diga que foram eles que elegeram Bolsonaro.

Como todo grupo social, existem judeus de todo tipo: religiosos e laicos; sionistas e não sionistas; de esquerda e de direita; ricos e pobres; torcedores dos mais variados times de futebol; de todos os gêneros; enfim, são iguais a todos os grupos sociais que compõe a sociedade. No entanto, a direita antissemita tradicional e a esquerda antissemita de ocasião enxergam somente o judeu rico que apoia o Estado de Israel que por sua vez estaria cometendo um genocídio contra o Povo Palestino.

Antes de apontarem o dedo para Israel com uma ilação destas, me falem dos Yanomami, dos povos indígenas dizimados por vocês. Amoin Akuká, o último indígena da tribo Juma, morreu aos 86 anos por Covid-19 no início do ano. Milhares de outros indígenas morrem por doenças levadas por garimpeiros que invadem suas terras. Uma tribo inteira deixou de existir. Onde vocês estão enquanto estas coisas acontecem?

Nunca escutei amigos da esquerda me dizerem que tem um amigo índio. Nem que tenham um amigo moçambicano, nem que tenham conhecidos do Yêmen, ou da Síria, tampouco da Bielorrússia. Mas já tive vários que diziam ter “um amigo judeu“, que no caso era eu! Abandonei a amizade de todos eles quando acusaram os judeus pelo genocídio do povo palestino. Uma mentira repetida ao estilo nazista de Joseph Goebbels. E há quem acredite. E de esquerda!

Siegfried Elwanger, o famigerado dono da Editora Revisão dedicada a publicação exclusivamente de literatura antissemita e autor do livro “Holocausto, Judeu ou Alemão:”, em sua defesa no processo em que fui parte contra ele, alegava não ser antissemita e que inclusive tinha “amigos judeus“.

A esquerda antissemita é igual a direita islamofóbica. Muda apenas para quem o preconceito é dirigido. A mesma retórica. O racismo é da natureza humana, não importa a ideologia. Nisto, esquerda e direita, direita e esquerda, são a mesma coisa para quem sofre os ataques. Não existe país no mundo que não sofra deste flagelo.

Para deixar claro: genocídio cometeu a Turquia contra os Armênios com 1,5 milhão de assassinatos. Os Tutsis contra Utus com 800 mil assassinatos em Ruanda. O Kmer Vermelho no Camboja contra seu próprio povo com cerca de 3 milhões de mortos. Os nazistas contra os judeus com 6 milhões de mortos. E mais recentemente, Bolsonaro contra seu próprio povo com 450 mil mortos.

A despeito de tudo, eu sigo acreditando em um futuro Estado Palestino em Gaza e na Cisjordânia. Temos de retomar o diálogo, pois só ele pode trazer a solução para o conflito. A violência só trás mais violência e o ciclo precisa ser quebrado. Precisamos de parceiros para sentar a mesa. Países que não escolhem lado, que não apontam o dedo, que mostrem  o que pode nos unir, não o que nos divide.

Estamos cansados de tudo isso. Não queremos mais seguir enterrando nossos mortos a cada nova batalha de uma guerra que nunca terá um vencedor. Nós israelenses não vamos desaparecer. Eles, os palestinos não vão sumir. Estamos condenados a uma vida em comum, temos uma única escolha a fazer, se ela será em paz, ou em guerra.

A maioria dos dois povos  sempre escolheu o caminho da paz. Então nos ajudem a encontrá-la. Nos mostrem o caminho e permitam que o tempo do ódio fique no passado e o futuro seja de convivência em harmonia para os dois povos.

Talvez semana que vem surja um novo governo em Israel e Bibi finalmente vá para a oposição. Um governo de união nacional com partidos de esquerda, de centro e de direita apoiados por um partido árabe que vai dar sustentação. Se somos capazes de reunir forças tão distintas, tão diferentes, acredito que sejamos capazes de retomar as negociações de paz em um futuro próximo.

Esta é a melhor resposta para vocês e o seu preconceito.

9 de set. de 2019

Ser Judeu é Preciso - artigo de opinião de Mauro Nadvorny

Ser Judeu é Preciso - artigo de opinião de Mauro Nadvorny

Não lembro em minha existência de um protagonismo político judaico no Brasil como nestes tempos recentes. Sem dúvida, estas eleições mexeram muito com a comunidade judaica brasileira e parece que o Brasil também ficou sabendo que existem judeus brasileiros.
Nossa existência nestas terras remontam a colonização do Brasil após a sua descoberta. Já chegamos a ser uma comunidade com cerca de 150.000 pessoas, nos acomodamos bem entre as demais comunidades de emigrantes e nos integramos na vida diária.
A comunidade judaica sempre foi muito organizada. No mundo inteiro sempre foi assim e aqui não poderia ser diferente. Sinagogas, escolas, clubes sociais e esportivos, clubes de cultura, associações femininas, e movimentos juvenis são exemplos da vida comunitária presente no Brasil.
O Mito de que judeus só casavam com judeus não se sustentou, a comunidade diminui ano a ano, principalmente devido aos casamentos mistos e abandono da tradição judaica. O mesmo com relação as posições políticas. Os judeus sempre estiveram presentes na esquerda e na direita se afiliando aos diversos partidos políticos que o país já teve.
A comunidade judaica nunca foi monolítica. Com representações a nível estadual e uma representação nacional, os judeus brasileiros são bastante distintos entre si. Não é apenas a origem ocidental (Ashkenazi), ou oriental (Sefaradi), temos visões políticas bastante diversificadas.
O judaísmo é essencialmente humanista. Nossos profetas apontaram para uma existência de respeito ao próximo e de convivência pacífica entre os povos. Se retirarmos a questão divina da equação ficamos com o que mais tarde ficou conhecido como os Direitos Humanos.
Nossa saga histórica é de inúmeras provações, a maior delas e a mais conhecida foi o Holocausto. Um regime político de extrema direita tomou o poder na Alemanha, conduziu o país para a Segunda Guerra Mundial e determinou a aniquilação do povo judeu. Foi uma indústria da morte onde 6 milhões perderam a vida assassinados, entre eles 1,5 milhão de crianças.
Muitos judeus se destacaram na história em todos os ramos do conhecimento. Muito do desenvolvimento humano que alcançamos até os dias de hoje se deve a contribuições judaicas. Não fossem estas contribuições, este artigo, por exemplo, ainda estaria sendo lido em jornais de papel.
O grande divisor de águas na nossa história recente foi a criação do Estado de Israel e suas consequências para nós como judeus, o povo árabe-palestino e o mundo em geral. Ao contrário do que se pensa, a busca por um lar judaico é muito anterior a segunda guerra e o Holocausto foi mais uma razão para esta determinação histórica de retornar para a terra de onde fomos dispersados pelo mundo.
Israel foi construída com base em uma sociedade socialista. As fazendas coletivas chamadas de Kibutz, foram um exemplo de socialismo prático e nenhum outro país conseguiu criar algo parecido. Os sindicatos, a medicina universal e a vida nas cidades foram conceitualmente e na prática visões socialistas. Israel nasceu e se desenvolveu em seus primeiros anos de vida como um estado socialista.
As coisas mudaram a partir de 1977 com a subida ao poder do bloco de direita e continuam assim deste então. O alinhamento com regimes de direita, e especialmente com os Estados Unidos numa simbiose extremamente prejudicial se mantém inalterado até os dias de hoje. É com este governo de Israel que Bolsonaro tenta se aliar.
O mundo evangélico pentecostal vê em Israel e nos símbolos judaicos o que os católicos veem no Vaticano e no Papa. Para eles, Jesus Cristo só voltará a Terra quando todos os judeus tiverem retornado para Israel e o aceito como Messias. Com esta pregação, eles arregimentam milhões de fieis dispostos a seguirem os mandamentos de seus líderes e se dispõe a ajudarem nesta missão. Assim se apropriam de nossa indumentária religiosa e nacional conduzindo a bandeira de Israel em todas as suas cerimônias e manifestações, sejam religiosas ou políticas.
Claro que esta apropriação não é bem recebida, principalmente pelos judeus progressistas. Durante o período das últimas eleições, um grupo denominado de “Judeus Contra Bolsonaro” foi formado no Facebook e em poucos dias chegou a quase 8.000 membros. Nele estavam presentes judeus de todo o espectro político que tinham em comum o fato de não desejarem Bolsonaro como presidente. Estivemos presentes na luta pelo “Ele Não” no dia a dia de todo processo eleitoral.
Passadas as eleições o grupo mudou de nome e hoje se chama ‘Resistência Democrática Judaica’ com pouco mais de 6.000 membros. Nasceram a seguir outros grupos em outras mídias como os “Judeus pela Democracia” em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mais recentemente foi formado o “Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil”. Nunca antes na história judaica brasileira surgiram em tão pouco tempo grupos judaicos de oposição política a um governo recém-eleito.
A mensagem destes grupos tem em comum principalmente a luta por um Brasil democrático e o respeito pela dignidade humana. São grupos de judeus progressistas que concentram aquilo que de mais precioso existe no judaísmo, nosso sentimento de humanidade e solidariedade com o próximo. Nossas causas passam, entre outras, pela condenação do golpe que destituiu uma presidente eleita, pela prisão política de um ex-presidente que permitiu a eleição de Bolsonaro, pelos retrocessos dos direitos históricos dos trabalhadores, pelo respeito a diversidade humana, pelo clima, contra a censura etc.
No momento em que Bolsonaro se comporta de maneira tão inapropriada no cargo de Presidente do Brasil, nos envergonha sobremaneira ver nossos símbolos associados a esta vergonha internacional. Não somos seus judeus de estimação e nos aliamos a todos os movimentos que lutam pelo fim de seu regime e acabe com o termo da sua passagem pela presidência.
Nesta hora em que o país dá a cada dia mais indicações de que basta desta milícia familiar no poder, nós judeus progressistas estamos na linha de frente irmanados com todos os brasileiros. Porque ser judeu é preciso.


Créditos Mauro Nadvorny - publicado originalmente em - 
https://www.facebook.com/mauro.nadvorny/posts/10217781465022230

17 de ago. de 2019

O círculo vicioso do ódio – artigo de opinião de Mauro Nadvorny





O círculo vicioso do ódio – artigo de opinião de Mauro Nadvorny
A cena bem que poderia fazer parte de um filme, ou um destes seriados novos da Netflix. Duas crianças cruzam um portão, se aproximam dos policiais que fazem a segurança do local, sacam suas facas e atacam o primeiro policial mais próximo. São várias tentativas de esfaqueá-lo, algumas bem-sucedidas, até que os demais seguranças saquem suas armas e comecem a atirar. Uma das crianças é morta, a segunda gravemente ferida. O segurança também acaba ferido levemente. Um funcionário palestino que estava na rua também é ferido por uma bala perdida.
Esta cena é real, aconteceu ontem, 15 de agosto em Jerusalém. Quem vive aqui já convive com este tipo de ataques que acontecem esporadicamente, mas até agora, cometidos principalmente por adultos ou adolescentes. As vítimas atacadas vão desde simples transeuntes, passando por eventuais turistas e forças de segurança. Em quase sua totalidade os perpetuadores são mortos pela polícia o que faz destes ataques uma ação suicida.
Infelizmente as coisas não terminam com a morte dos atacantes, que aqui são chamados de terroristas. Em poucos dias as casas onde viviam, e não importa se sós ou com suas famílias, será destruída numa forma de punição coletiva. Todos vão pagar pelo crime. A tragédia atinge a todos.
Existem todo tipo de explicações para estes atentados. A ocupação dos territórios palestinos há mais de 50 anos é o mais simples. No entanto, eu acho que a desumanização do outro é o principal. Para boa parte dos israelenses, os palestinos são todos terroristas que mais cedo, ou mais tarte, vão atacar Israel para expulsar todos os judeus da Palestina. Do outro lado, boa parte dos palestinos acredita que os sionistas israelenses são monstros culpados por todos seus problemas. O conflito que teve seu ápice na criação do Estado de Israel segue cobrando vidas.
A mídia israelense e a palestina em nada contribuem, com poucas exceções, para desconstruir este dueto terrorista e sionista. Ambas empregam estes termos no dia a dia da cobertura de tudo o que acontece de mal em Israel e nos territórios. No início desta semana um jovem religioso de 19 anos foi covardemente assassinado quando retornava para seu local de estudos nos territórios ocupados. Aparentemente foi escolhido a esmo. Estava no lugar errado, na hora errada quando um grupo de jovens palestinos passou por ele e decidiram matá-lo.
Infelizmente a educação de israelenses e de palestinos não é direcionada para a paz e a convivência em comum. Todos são demonizados e como representantes do mal, se justifica maltratá-los e acabar com suas vidas. É o círculo vicioso do ódio.
A solução do conflito ainda é política, mas sem uma revolução na educação de ambos os povos, está cada dia mais difícil e vai se tornando um problema de difícil solução. Com o aumento da colonização dos territórios palestinos ocupados, a solução da dois estados vão diminuindo diante da impossibilidade de se constituir um estado palestino com uma continuidade territorial. Não bastasse a necessidade de uma ligação terrestre com Gaza, os centros populacionais palestinos estão sendo cercados por colônias judaicas.
Num cenário onde os palestinos estão radicalmente divididos com dois governos que não se entendem, um na Cisjordânia e outro em Gaza, e um governo nacionalista e xenófobo em Israel, encontrar uma maneira de voltar a mesa de negociações para tratar de um acordo de paz, não é tarefa simples, é quase impossível.
No início de setembro teremos eleições em Israel novamente. Nas últimas, o partido de Bibi que não conseguiu formar um governo, dissolveu o parlamento recém-eleito e novas eleições foram convocadas. O problema é que as pesquisas apontam que a situação vai se repetir. Nem a direita, tampouco a esquerda conseguem atualmente obter maioria para formar um governo. São necessários 61, ou mais cadeiras em um parlamento com 120 eleitos.
Uma possibilidade seria um governo com os dois maiores blocos que juntos devem ter 60, ou pouco mais de cadeiras, e um terceiro partido formarem o governo. O bloco do centro diz que não senta em um governo com Bibi. Já o bloco de Bibi diz que ele é o único líder deles para formar um governo.
O terceiro partido, formado principalmente por imigrantes russos, diz que não senta em um governo com religiosos e aceita formar o governo de coalizão com os dois maiores blocos. Mas Bibi diz hoje que não aceita um governo assim sem os religiosos.
Os partidos árabes não são convidados por ninguém e devem ter em torno de 10 a 12 cadeiras. A extrema direita seria parceira natural de Bibi, mas já estão brigando entre si e com Bibi. A esquerda reunida no bloco Campo Democrático só aceitaria fazer parte de um governo com o centro, assim como o já diminuto Partido Trabalhista.
O conflito com os palestinos não é o tema mais importante tratado pelos partidos. A situação da economia, da educação, da saúde e da segurança são os tópicos mais importantes.
É neste cenário que inicialmente duas congressistas norte-americanas foram impedidas de entrarem em Israel. Não por casualidade muçulmanas e críticas das políticas do governo de Israel. Quando eu escrevia este artigo, uma delas, Rashida Tlaib, filha de emigrantes palestinos, teria tido seu pedido humanitário de rever sua avó muito doente sido aceito e sua entrada permitida.  Na sequência ela desistiu da visita.
A decisão do governo provisório israelense de barrar as congressistas, em um apoio tácito ao presidente Trump que é um desafeto delas, terá graves consequências para Israel.






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