Artigo de Opinião
Foram duas semanas de guerra. Entradas e saídas do quarto seguro dia e noite. Todos se sentindo como zumbis, devendo horas de sono. E não é apenas poder dormir, é poder ter um descanso. Finalmente acabou.
Artigo de Opinião
Foram duas semanas de guerra. Entradas e saídas do quarto seguro dia e noite. Todos se sentindo como zumbis, devendo horas de sono. E não é apenas poder dormir, é poder ter um descanso. Finalmente acabou.
Artigo de Opinião. Créditos A Voz da Esquerda Judaica
Todos sabem que a morte de civis em uma guerra é deplorável. Existem convenções internacionais supostamente para proteger essas vidas. No papel, tudo está muito bem explicado e justificado, mas na vida real não é o que acontece.
A guerra na Ucrânia está aí para provar o que significa o desrespeito às mais elementares regras de proteção a ida dos civis. A Rússia vem atacando cidades, dizimando vilas e aldeias, bombardeando hospitais, escolas e prédios urbanos incessantemente. Nenhum deles é algo próximo de um alvo militar justificável.
Soldados russos estupraram mulheres e abusaram de crianças. Mataram civis a sangue frio e sequestraram crianças. Tudo documentado, filmado e com a complacência de setores da esquerda.
Durante todos esses meses de guerra, a esquerda se colocou ao lado do agressor, justificando seus atos como necessários para livrar o mundo de um suposto governo nazista que havia se instalado na Ucrânia, ameaçando a paz mundial. Todas as atrocidades seriam justificáveis em uma situação de guerra, como efeitos colaterais inerentes a uma zona de combates.
No último sábado, uma força com cerca de 1500 membros do Hamas destruiu a cerca que separa a Faixa de Gaza de Israel em diversos pontos e invadiu o país com um único objetivo: matar e sequestrar o maior número possível de civis.
Muito próximo da cerca, estava sendo realizado um evento musical com a participação de 3000 jovens. Eles foram atacados. No ataque, 260 deles foram assassinados, e um número ainda desconhecido foi sequestrado.
As aldeias próximas também foram invadidas. Em uma única delas, 100 civis mortos, homens, mulheres, crianças, idosos, ninguém foi poupado. Quando o exército chegou, só restava recolher os corpos. Muitos deles estavam queimados, mutilados e alguns, inclusive bebês, com a cabeça decepada.
Somados os mortos até agora, passamos de 1200, com 4500 feridos e um número ainda não confirmado de cerca de 150 sequestrados.
Mais de 5 mil foguetes foram disparados nas primeiras horas contra as cidades israelenses e continuam até o dia de hoje.
Neste sábado que passou, 7 de outubro de 2023, às 6:00 da manhã, o Hamas declarou guerra a Israel com uma operação muito bem planejada e levada a cabo com certa facilidade. Os serviços de inteligência israelenses não previram o que estava por acontecer.
Passadas as primeiras horas, Israel começou a tomar ciência da gravidade do que estava ocorrendo e as forças de segurança começaram a se mobilizar. Bombardeios a Gaza tiveram início com o uso da força aérea. Israel declarou guerra para poder mobilizar os reservistas e em 48 horas, 300 mil se apresentaram.
Os bombardeios a Gaza, por mais que estejam sendo direcionados aos locais de permanência ou frequentados por membros do Hamas, também têm efeitos colaterais, e civis estão sendo atingidos com mortos e feridos.
A mesma esquerda que apoia Putin se manifestou: Israel estava atacando os palestinos em Gaza! O mundo precisa condenar o estado assassino! Palestinos estão sendo mortos!
Até este momento, eu tinha uma dúvida sobre a possibilidade da existência de uma esquerda fascista. Essa dualidade seria uma aberração semântica e ideológica. Impossível, pensava eu. Mas eis que me deparei com a realidade.
A princípio, parece contraditório ser de esquerda e fascista ao mesmo tempo, uma vez que essas duas ideologias políticas possuem princípios e valores muito diferentes. A esquerda geralmente defende ideais de igualdade, justiça social, além de uma maior intervenção do Estado na economia para proteger os direitos dos trabalhadores e das minorias. Por outro lado, o fascismo é uma ideologia de extrema direita que promove autoritarismo, nacionalismo extremo e desrespeito aos direitos individuais em favor do Estado.
No entanto, é importante lembrar que a política é muitas vezes complexa e multifacetada. Pode haver pessoas ou grupos que se identificam como de esquerda em algumas questões, como economia e intervenção do Estado na economia, mas que também apoiam políticas autoritárias, nacionalistas ou discriminatórias, que são mais características de ideologias de extrema direita.
Nesses casos, elementos que se promovem como de esquerda são uma mistura de diferentes ideologias políticas. A chave aqui é o fator antissemitismo, antes relacionado à extrema direita e agora cooptado por essa esquerda fascista, mas que na verdade, é o que une os dois extremos.
A esquerda que condena Israel neste momento, alheia ao massacre perpetrado pelo Hamas, é fascista. Uma esquerda antissemita que apoia um regime fundamentalista que humilha as mulheres, persegue a minoria LGBT+, não permite a existência de oposição e não promove eleições desde que chegaram ao poder, justamente vencendo a última delas.
Para uma pessoa de esquerda apoiar políticas autoritárias, nacionalistas e discriminatórias, conceitos típicos do fascismo, somente sendo antissemita. Isto é o que explica o contraditório. Esta é a realidade que eu não acreditava possível.
Todo esse tempo, essa esquerda fechou os olhos e tampou os ouvidos para o que acontece na Ucrânia, mas bastou Israel revidar a agressão criminosa do Hamas para levantarem sua voz. Sim, a hipocrisia tem nome: antissemitas.
Todo antissemita tem um amigo judeu. É uma característica deles. Se dizem contra o Estado Nazista de Israel, contra os judeus que lá vivem, são sempre antissionistas fervorosos. Os de esquerda em especial não sabem que foi graças as armas fornecidas pela Checoslováquia, um satélite comunista da então União Soviética, que Israel pode vencer a guerra da Independência. Mas isto já é outra história.
Mal acabou mais um conflito entre Israel e Gaza e novamente os antissemitas de plantão fizeram a festa carregando consigo os que de boa fé apoiam um Estado Palestino. Foram 219 mortos em Gaza e 10 em Israel, o suficiente para acusar o Estado Sionista de genocídio. O fato de que desta vez tudo explodiu com o lançamento de foguetes contra Jerusalém, é apenas um detalhe. Que o conflito interessava politicamente o atual governo israelense e o Hamas, outro mero detalhe.
Vejamos entretanto o que está acontecendo no mundo para se ter uma ideia da desproporção dos ataques que inundaram o Twitter com a hashtag #hitlertinharazão. Sim, muita gente de esquerda que se diz apenas antissionista, ajudou a subir esta hashtag.
De acordo com o Programa Mundial de Alimentos, PMA da ONU, Mais de 31 milhões de pessoas devem enfrentar insegurança alimentar na África Ocidental e Central. Ela pede uma ação imediata para evitar que a falta de comida cause uma situação de catástrofe
A agência alerta que a temporada de escassez vai de junho a agosto deste ano, antes da próxima colheita. Vocês sabiam disso? Estão ajudando a evitar a fome deste contingente humano?
Ainda na África, centenas de moçambicanos estão tentando escapar da violência dos recentes ataques de grupos armados extremistas islâmicos, em Palma. Eles estão encontrando abrigos temporários com apoio do governo de Moçambique, da ONU e parceiros internacionais.
A Organização Internacional para Migrações, OIM, informou que até a quinta-feira, quase 14 mil pessoas foram cadastradas num Centro de Trânsito e Acolhimento em Pemba, capital da província de Cabo Delgado. As chegadas aumentam a cada dia. Algum antissemita, ou antissionista está apoiando os grupos extremistas islâmicos contra o governo de Moçambique?
Seis anos de conflito no Iêmen já deixaram 80% da população abaixo da linha da pobreza. O país enfrenta a maior crise humanitária do mundo: 66% da população precisa de assistência para sobreviver e 16 milhões de pessoas sofrem com a fome. O conflito armado já matou e feriu mais de 100.000 pessoas. Vocês que atacam os judeus, estão ajudando a população do Yêmen?
Vamos falar de Myanmar. Segundo o El País, “Mergulhado há décadas em várias guerras civis com guerrilhas formadas por minorias étnicas, Mianmar vê aumentarem as possibilidades de um conflito maior ante a espiral de violência e anarquia gerada após o golpe de Estado de fevereiro passado. Com mais de 500 mortos pelos ataques de policiais e militares contra os manifestantes que pedem a volta da democracia, e a fuga de milhares de birmaneses a países como Tailândia e Índia, o país enfrenta um dilema impossível: ou se opor ao Tatmadaw ―o Exército birmanês― ou se render ante os golpistas. A segunda opção tem sido descartada por algumas das guerrilhas mais poderosas da antiga Birmânia, que, em diálogos com o Governo civil na clandestinidade, concordam em se unir para formar um exército federal que possa afastar do poder as forças armadas do general golpista, Min Aung Hlaing.” Onde está a esquerda para apoiar o povo de Mianmar na sua luta por democracia?
E a Síria onde o conflito deixou em 10 anos mais de 380 mil mortos e levou 1,5 milhão de refugiados Sírios a abandonarem o país? Nas eleições presidenciais desta semana, Bashar Al-Assad ganhou com incríveis 95% dos votos. Posso estar equivocado, mas penso não ter visto nenhuma manifestação de qualquer partido político brasileiro, ou de seus líderes contra esta fraude.
Para fechar, que tal a gente falar da Bielorrússia? Lá, Alexander Lukashenko tem sido o seu presidente desde 1994. Em todas as eleições ele ganha sempre com ampla maioria dos votos. Na última, realizada em 2020, venceu com 80% . A população bem que tentou protestar, mas não recebeu nenhum apoio internacional contundente. Esta semana o país voltou as manchetes ao sequestrar um avião da Ryanar para deter um jornalista de oposição e sua companheira. Novamente preciso perguntar aqui quantas manifestações da esquerda contra este ato de terrorismo de estado foram vistas?
Hora de voltar a falar do “Meu Amigo Judeu”. É verdade que existem comunidades judaicas em quase todos os países do mundo, em maior ou menor número. Elas costumam ser organizadas e atuantes em seus países. Os judeus são sempre uma pequena parcela da população, mas parecem representar muito mais do que são de fato. No Brasil são cerca de 100 mil, mas há quem diga que foram eles que elegeram Bolsonaro.
Como todo grupo social, existem judeus de todo tipo: religiosos e laicos; sionistas e não sionistas; de esquerda e de direita; ricos e pobres; torcedores dos mais variados times de futebol; de todos os gêneros; enfim, são iguais a todos os grupos sociais que compõe a sociedade. No entanto, a direita antissemita tradicional e a esquerda antissemita de ocasião enxergam somente o judeu rico que apoia o Estado de Israel que por sua vez estaria cometendo um genocídio contra o Povo Palestino.
Antes de apontarem o dedo para Israel com uma ilação destas, me falem dos Yanomami, dos povos indígenas dizimados por vocês. Amoin Akuká, o último indígena da tribo Juma, morreu aos 86 anos por Covid-19 no início do ano. Milhares de outros indígenas morrem por doenças levadas por garimpeiros que invadem suas terras. Uma tribo inteira deixou de existir. Onde vocês estão enquanto estas coisas acontecem?
Nunca escutei amigos da esquerda me dizerem que tem um amigo índio. Nem que tenham um amigo moçambicano, nem que tenham conhecidos do Yêmen, ou da Síria, tampouco da Bielorrússia. Mas já tive vários que diziam ter “um amigo judeu“, que no caso era eu! Abandonei a amizade de todos eles quando acusaram os judeus pelo genocídio do povo palestino. Uma mentira repetida ao estilo nazista de Joseph Goebbels. E há quem acredite. E de esquerda!
Siegfried Elwanger, o famigerado dono da Editora Revisão dedicada a publicação exclusivamente de literatura antissemita e autor do livro “Holocausto, Judeu ou Alemão:”, em sua defesa no processo em que fui parte contra ele, alegava não ser antissemita e que inclusive tinha “amigos judeus“.
A esquerda antissemita é igual a direita islamofóbica. Muda apenas para quem o preconceito é dirigido. A mesma retórica. O racismo é da natureza humana, não importa a ideologia. Nisto, esquerda e direita, direita e esquerda, são a mesma coisa para quem sofre os ataques. Não existe país no mundo que não sofra deste flagelo.
Para deixar claro: genocídio cometeu a Turquia contra os Armênios com 1,5 milhão de assassinatos. Os Tutsis contra Utus com 800 mil assassinatos em Ruanda. O Kmer Vermelho no Camboja contra seu próprio povo com cerca de 3 milhões de mortos. Os nazistas contra os judeus com 6 milhões de mortos. E mais recentemente, Bolsonaro contra seu próprio povo com 450 mil mortos.
A despeito de tudo, eu sigo acreditando em um futuro Estado Palestino em Gaza e na Cisjordânia. Temos de retomar o diálogo, pois só ele pode trazer a solução para o conflito. A violência só trás mais violência e o ciclo precisa ser quebrado. Precisamos de parceiros para sentar a mesa. Países que não escolhem lado, que não apontam o dedo, que mostrem o que pode nos unir, não o que nos divide.
Estamos cansados de tudo isso. Não queremos mais seguir enterrando nossos mortos a cada nova batalha de uma guerra que nunca terá um vencedor. Nós israelenses não vamos desaparecer. Eles, os palestinos não vão sumir. Estamos condenados a uma vida em comum, temos uma única escolha a fazer, se ela será em paz, ou em guerra.
A maioria dos dois povos sempre escolheu o caminho da paz. Então nos ajudem a encontrá-la. Nos mostrem o caminho e permitam que o tempo do ódio fique no passado e o futuro seja de convivência em harmonia para os dois povos.
Talvez semana que vem surja um novo governo em Israel e Bibi finalmente vá para a oposição. Um governo de união nacional com partidos de esquerda, de centro e de direita apoiados por um partido árabe que vai dar sustentação. Se somos capazes de reunir forças tão distintas, tão diferentes, acredito que sejamos capazes de retomar as negociações de paz em um futuro próximo.
Esta é a melhor resposta para vocês e o seu preconceito.
Antifascista. Idealista que luta por um mundo melhor.
Membro da Resistência Democrática Judaica contra este governo miliciano. Colunista do Brasil247.