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26 de ago. de 2025

A CIA criou quase 900 sites secretos — veja o que eles escondiam - Por Alan Macleod/Mintpress News - Operamundi



A CIA criou quase 900 sites secretos — veja o que eles escondiam -Por Alan Macleod | Mintpress News


A CIA não se infiltrou apenas em governos; também infiltrou a própria internet. Por mais de uma década, Langley operou uma vasta rede de sites secretos que serviam como terminais de espionagem globais disfarçados de blogs inofensivos, portais de notícias e páginas de fã-clubes.

A partir de 2004, a CIA estabeleceu uma rede de pelo menos 885 sites, que iam desde páginas de fãs do apresentador Johnny Carson e de Star Wars até fóruns online sobre o rastafarianismo. Abrangendo 29 idiomas e visando diretamente pelo menos 36 países, esses sites não tinham como alvo apenas adversários como China, Venezuela e Rússia, mas também nações aliadas, incluindo França, Itália e Espanha — mostrando que os Estados Unidos tratam seus amigos da mesma forma que seus inimigos.



Blogs secretos sobre futebol e senhas decifradas
Gholamreza Hosseini é um ex-informante da CIA. Em 2007, o engenheiro industrial baseado em Teerã entrou em contato com a agência e se ofereceu para fornecer informações sobre o programa de energia nuclear do Irã. Seus contatos na CIA mostraram a ele como usar o site IranianGoals.com para se comunicar com eles.

O Iranian Goals era um site em farsi que parecia ser dedicado a notícias locais sobre futebol. No entanto, o que parecia ser uma barra de pesquisa na parte inferior da página inicial era, na verdade, um campo de senha. Digitar a palavra correta acionava um processo de login, revelando uma interface secreta de mensagens. Cada informante tinha sua própria página, projetada especificamente para ele, de modo a isolá-lo dos demais na rede.

Parecia uma ideia engenhosa. No entanto, Hosseini e outros espiões foram rapidamente descobertos, graças a alguns erros grosseiros em Washington, D.C. Um agente duplo iraniano revelou às autoridades o site exclusivo deles, e um trabalho de investigação básico levou à descoberta de toda a rede.

A CIA comprava o espaço de hospedagem para dezenas, talvez centenas, desses sites em massa, muitas vezes dos mesmos provedores de internet ou até no mesmo servidor. Isso significava que os endereços IP eram consecutivos — como se cada informante estivesse alojado em casas vizinhas na mesma rua.



Assim, ao verificar endereços IP próximos, era possível encontrar sites de design semelhante e facilmente juntar as peças. Mesmo com algumas buscas online relativamente simples, as autoridades iranianas conseguiram identificar dezenas de sites operados pela CIA. A partir daí, bastou esperar para ver quem os acessava.


O Ministério da Inteligência iraniano afirmou que 30 indivíduos foram presos e outros 42 agentes da CIA identificados. Alguns sites, como IranianGoalKicks.com, FirstNewsSource.com e Farsi-NewsAndWeather.com, ainda podem ser acessados via Internet Wayback Machine. Uma lista completa das páginas conhecidas da CIA pode ser encontrada aqui.

Hosseini passou mais de nove anos na prisão e foi libertado em 2019. Ele não recebeu nenhum apoio das autoridades americanas, que sequer entraram em contato com ele desde sua prisão. Os EUA, no entanto, continuam tentando derrubar o governo iraniano, patrocinando figuras de oposição de alto perfil e sequestrando movimentos de protesto domésticos. Em junho, também lançaram ataques aéreos contra instalações ligadas ao programa nuclear em todo o país.

Espionando aliados e adversários
A rede de sites abrangia uma ampla variedade de tópicos. Poucos imaginariam que o Rasta Direct, um site dedicado à religião relativamente nicho do rastafarianismo, tivesse qualquer ligação com a inteligência dos EUA. A CIA também criou o Star Wars Web, uma página de fãs da franquia de ficção científica, e o All Johnny, uma página dedicada ao lendário apresentador Johnny Carson. No entanto, blogs sobre esportes, jogos e notícias eram os mais comuns.

Esses sites serviam de cobertura para informantes, oferecendo algum grau de negação plausível se examinados superficialmente. Mas, em uma inspeção mais detalhada, poucas páginas traziam conteúdo original: em geral apenas republicavam notícias e blogs de outros sites, com links para recursos já disponíveis.

Informantes em países inimigos, como a Venezuela, usavam sites como Noticias-Caracas e El Correo De Noticias para se comunicar com Langley, enquanto agentes russos utilizavam My Online Game Source, TodaysNewsAndWeather-Ru.com e outras plataformas semelhantes.

Mas também foi descoberta uma ampla rede de informantes em países aliados, como França, Espanha e Itália, que utilizavam sites de notícias financeiras, de montanhismo e de corrida para transmitir informações vitais à CIA.

A Alemanha também foi alvo de Washington. Em 2013, revelou-se que os EUA vinham grampeando o celular da chanceler Angela Merkel há mais de uma década, provocando uma grande crise diplomática. Um ano depois, em 2014, a Alemanha prendeu um de seus próprios agentes de inteligência após flagrá-lo espionando para os Estados Unidos.

O colapso da rede da CIA na China
A China, no entanto, continua sendo um dos principais alvos da CIA. A agência mantém uma extensa rede de informantes em todo o país que, enquanto ativa, usava plataformas como eChessNews.com e SportsNewsFinder.com para transmitir informações de volta aos Estados Unidos.

Mas, assim como no Irã, as autoridades chinesas começaram a desmantelar a rede. A partir do fim de 2010, ela foi sistematicamente destruída, provavelmente com táticas semelhantes às dos iranianos. Ao contrário do Irã, porém, a China chegou a executar esses agentes. Estima-se que a CIA tenha perdido cerca de 30 informantes nesse expurgo — considerado uma das piores falhas de inteligência nos quase 80 anos de história da agência.

Desde então, a rede de espionagem dos EUA na China foi drasticamente reduzida. No início deste ano, a CIA mudou de tática, divulgando publicamente dois vídeos encorajando funcionários descontentes do Partido Comunista a espionar em troca de dinheiro e da perspectiva de uma nova vida nos Estados Unidos.

“À medida que subo na hierarquia do partido, vejo aqueles acima de mim serem descartados como sapatos gastos, mas agora percebo que meu destino é tão precário quanto o deles”, diz o narrador em um dos vídeos.
“O fracasso de nossos líderes em cumprir repetidas promessas de prosperidade tornou-se um segredo bem conhecido... É hora de construir meu próprio sonho”, conclui em outro.

A CIA instrui os aspirantes a traidores a baixar o navegador Tor e entrar em contato com a agência através de seu site. Embora o Tor seja divulgado no Ocidente como uma ferramenta de privacidade, uma investigação anterior da MintPress News revelou que ele foi criado com financiamento do governo dos EUA por uma empresa ligada à CIA. No ano passado, Washington aprovou um projeto de US$ 1,6 bilhão para financiar propaganda antichinesa em todo o mundo.

O uso de aplicativos e plataformas como armas
Esta não foi a única vez que o aparato de segurança nacional dos EUA criou plataformas falsas na web para fomentar mudanças de regime. Em 2010, a USAID — uma organização de fachada da CIA — criou secretamente o aplicativo de mídia social cubano Zunzuneo.

Frequentemente descrito como o “Twitter de Cuba”, o Zunzuneo rapidamente ganhou popularidade. O aplicativo foi projetado para oferecer um serviço confiável e acessível, superando a concorrência, até conquistar domínio e então começar a disseminar lentamente mensagens antigovernamentais na ilha.

Depois, em determinado momento, o Zunzuneo incentivaria os usuários a participar de protestos coordenados pelos EUA, numa tentativa de fomentar uma revolução colorida em Cuba.

Para ocultar sua ligação com o projeto, o governo dos EUA realizou uma reunião secreta com o fundador do Twitter, Jack Dorsey, para incentivá-lo a assumir o controle. Não está claro até que ponto, se é que em algum, Dorsey colaborou com o projeto, já que ele se recusou a comentar o assunto. Em 2012, o Zunzuneo foi abruptamente encerrado.


Captura de tela da página de fãs de Star Wars administrada pela CIA
Infiltração no jornalismo e nas big techs
Embora os 885 sites falsos não tenham sido criados para influenciar a opinião pública, hoje o governo dos EUA financia milhares de jornalistas no mundo inteiro com esse objetivo específico. No início deste ano, a decisão do governo Trump de suspender o financiamento à USAID expôs inadvertidamente uma rede de mais de 6.200 repórteres, atuando em quase 1.000 veículos de comunicação ou organizações jornalísticas, todos pagos discretamente para promover mensagens pró-EUA em seus países.

Oksana Romanyuk, diretora do Instituto Ucraniano de Informação de Massa, alertou que quase 90% dos veículos de comunicação de seu país dependem do financiamento da USAID para sobreviver. Uma pesquisa com 20 organizações líderes na Bielorrússia revelou que 60% de seu orçamento vinha de Washington. No Irã, mais de 30 grupos antigovernamentais realizaram uma reunião de resposta à crise, enquanto em Cuba e na Nicarágua a imprensa opositora passou a solicitar doações diretamente aos leitores.

A CIA também conseguiu se infiltrar nas maiores e mais populares redes sociais, dando à agência controle substancial sobre o que o mundo vê — e não vê — em seus feeds de notícias.

O Facebook contratou dezenas de ex-funcionários da CIA para conduzir suas operações mais sensíveis. Talvez o mais notável seja Aaron Berman.

Como gerente sênior de desinformação da plataforma, Berman tem a palavra final sobre o conteúdo que é promovido e o que é rebaixado ou excluído do Facebook. Até 2019, porém, ele era um oficial de alto escalão da CIA, responsável por redigir o briefing diário de segurança do presidente. Foi nessa época que deixou Langley para ingressar no Facebook, apesar de parecer ter pouca experiência profissional relevante.

O Google, por sua vez, está ainda mais repleto de ex-espiões. Uma investigação da MintPress News revelou que dezenas de ex-agentes da CIA ocupam cargos importantes na gigante do Vale do Silício. Entre eles está Jacqueline Lopour, que passou mais de dez anos na agência trabalhando em assuntos do Oriente Médio antes de ser recrutada para se tornar gerente sênior de Inteligência, Confiança e Segurança do Google — função que lhe dá influência considerável sobre a direção da empresa. Essa forma de censura estatal é a maneira pela qual a agência prefere moldar a internet hoje.

A CIA continua mantendo uma vasta rede mundial de informantes. Hoje, eles usam aplicativos personalizados, como Tor ou Signal, para se comunicar. Se forem capturados por seus próprios países, provavelmente serão abandonados à própria sorte — como Hosseini. Ser espião ou dedo-duro da CIA continua sendo tão perigoso quanto sempre foi.




Créditos Operamundi

2 de ago. de 2025

Recomendo fortemente a leitura dessa matéria top de OperaMundi - "A maçã podre: os ex-espiões israelenses dentro da Apple"

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"A maçã podre: os ex-espiões israelenses dentro da Apple" 

Como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo e o genocídio em Gaza se conectam - Por Alan Macleod | Mintpress News


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A maçã podre: os ex-espiões israelenses dentro da Apple

Como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo e o genocídio em Gaza se conectam. Por Alan Macleod | Mintpress News

Caro leitor,

a partir de hoje, Opera Mundi dá início ao seu novo boletim semanal no Substack. Além dos informes costumeiros, todo sábado enviaremos um artigo ou matéria especial, selecionado por nosso time de Opinião. Serão traduções exclusivas de artigos da imprensa estrangeira que aprofundem os principais problemas e acontecimentos da política internacional. Até o dia 23 de agosto, os artigos terão acesso liberado, mas a partir do 30 de agosto somente os assinantes pagos aqui do Substack terão acesso. Selecione um plano, colabore com o trabalho de Opera Mundi e garanta seu acesso exclusivo aos futuros artigos.


A Apple ganhou as manchetes recentemente por divulgar seu compromisso com a privacidade e os direitos humanos, lançando ferramentas para limitar a vigilância e spywares. Mas, por trás da mensagem corporativa, há uma realidade muito mais sombria.

A empresa contratou discretamente dezenas de veteranos da Unidade 8200, a obscura unidade de inteligência militar de Israel conhecida por suas práticas de extorsão, vigilância em massa e assassinatos seletivos.

Muitas dessas contratações ocorreram enquanto Israel intensificava sua guerra contra Gaza e o CEO Tim Cook expressava publicamente seu apoio a Israel, ao mesmo tempo em que punia funcionários por declarações pró-palestinas. Os laços cada vez mais profundos da Apple com o serviço de inteligência mais controverso de Israel levantam questões incômodas, não apenas sobre as lealdades políticas da empresa, mas também sobre como ela lida com vastos acervos de dados pessoais dos seus usuários.

Uma investigação da MintPress News identificou dezenas de agentes da Unidade 8200 que agora trabalham na Apple. A onda de contratações da empresa coincide com a crescente atenção sobre seus laços com o governo israelense, incluindo sua política de fazer doações a grupos como Friends of the IDF (Amigos das IDF) e Jewish National Fund (Fundo Nacional Judeu), ambos com responsabilidade pelo deslocamento do povo palestino. O intenso viés pró-Israel na corporação levou muitos ex-funcionários e funcionários atuais a se manifestarem.

Esta investigação faz parte de uma série que examina a estreita colaboração entre a Unidade 8200 e empresas ocidentais de tecnologia e mídia. Investigações anteriores examinaram as ligações entre a Unidade 8200 e gigantes das mídias sociais como TikTok, Facebook e Google, jogando luz sobre como ex-espiões da Unidade 8200 são agora responsáveis por escrever grande parte das notícias nos EUA sobre Israel/Palestina, ocupando cargos importantes em veículos como CNN e Axios.

Algumas (dezenas) de maçãs podres

A reputação internacional de Israel sofreu um duro golpe em meio a vários escândalos de espionagem e ataques contínuos contra seus vizinhos. Durante esse mesmo período, a Apple intensificou o recrutamento de ex-funcionários da inteligência israelense.

A gigante do Vale do Silício contratou dezenas de ex-agentes da controversa unidade de inteligência israelense, a Unidade 8200, levantando questionamentos sobre a orientação política da corporação.

Nir Shkedi está entre os exemplos mais proeminentes. De 2008 a 2015, ele atuou como comandante e chefe de aprendizagem da Unidade 8200, liderando uma equipe de aproximadamente 120 agentes que desenvolveram novas ferramentas de inteligência artificial para realizar análises rápidas de dados.

A Unidade 8200 está na vanguarda dessa tecnologia e é conhecida por ter usado IA para gerar automaticamente listas de morte de dezenas de milhares de habitantes de Gaza, incluindo crianças. Essas ferramentas ajudaram as Forças de Defesa de Israel (IDF) a contornar o que chamavam de “bottlenecks” (gargalos) na identificação de alvos humanos e a atacar um grande número de palestinos.

Shkedi é engenheiro de design físico no campus da Apple na área da baía de São Francisco desde 2022.

Noa Goor é outra figura sênior da Unidade 8200 que se tornou funcionária da Apple. De 2015 a 2020, Goor ascendeu de cargo, se tornando gerente de projetos e chefe da equipe de desenvolvimento de segurança cibernética e big data na Unidade 8200, onde, em suas próprias palavras, “inventou soluções tecnológicas criativas para alvos de inteligência de alta prioridade” e “gerenciou dois projetos cibernéticos estrategicamente importantes” para as IDF.

Um dos projetos cibernéticos mais importantes que a Unidade 8200 lançou nos últimos tempos foi o ataque a pagers no Líbano em setembro, um ato que feriu milhares de civis e foi amplamente condenado como um ato de terrorismo internacional, inclusive pelo ex-diretor da CIA Leon Panetta. Embora Goor não tenha se envolvido pessoalmente nessa operação, a Unidade 8200 liderou ações igualmente nefastas durante décadas.

Em 2022, Goor foi contratada pela Apple como engenheira de design de sistemas em chip.

Eli Yazovitsky, por sua vez, foi recrutado diretamente da Unidade 8200. Em 2015, ele deixou uma carreira de nove anos como gerente na unidade militar para ingressar na Apple, onde ascendeu a gerente de engenharia. Desde então, ele passou para a gigante da tecnologia Qualcomm.

A Unidade 8200 é a unidade de inteligência militar mais de elite – e mais controversa – de Israel. Ela serve como a espinha dorsal tanto do florescente setor tecnológico israelense quanto de seu aparato de vigilância repressivo. A unidade desenvolveu tecnologias de ponta, como reconhecimento facial e software de conversão de voz em texto, para vigiar, reprimir e perseguir palestinos.

A enorme quantidade de dados coletados sobre a população palestina, incluindo histórico médico, vida sexual e histórico de buscas na internet, tem sido usada para coerção e extorsão. Se um indivíduo precisasse atravessar postos de controle para receber tratamento médico crucial, sua permissão poderia ser suspensa até que ele se submetesse. Informações sobre casos extraconjugais ou orientação sexual, especialmente homossexualidade, são utilizadas como material para chantagem. Um ex-agente da Unidade 8200 lembrou que, durante seu treinamento, foi instruído a memorizar diferentes palavras em árabe para “gay”, a fim de poder identificá-las em conversas interceptadas.

Internacionalmente, a Unidade 8200 é mais conhecida por seus “ex-agentes” que criaram o notório software Pegasus, usado por governos repressivos em todo o mundo para espionar dezenas de milhares de figuras proeminentes, incluindo membros da realeza, chefes de Estado, ativistas e jornalistas.

Entre eles estava o colunista do Washington Post Jamal Khashoggi, assassinado por agentes sauditas na Turquia em 2018.

Embora o serviço militar seja obrigatório para judeus israelenses, poucos acabam na Unidade 8200 por acaso. Descrita como a “Harvard de Israel”, os pais gastam fortunas em aulas extracurriculares com foco em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) para seus filhos, na esperança de que eles sejam selecionados para ingressar na unidade mais seletiva e de elite das Forças de Defesa de Israel. Os escolhidos são recompensados com carreiras lucrativas na indústria de tecnologia após a conclusão do serviço.

Dado o histórico documentado de violência, espionagem e vigilância da Unidade 8200, tanto no âmbito nacional quanto internacional, vale a pena questionar se as gigantes da tecnologia deveriam contratar seus antigos membros em tão grande número.

Shkedi, Goor e Yazovitsky são os exemplos mais notórios, mas não são os únicos. Um olhar mais atento revela que dezenas de outros veteranos da Unidade 8200 também conseguiram cargos importantes na Apple.

Engenharia e Design de Hardware:

Natanel Nissan, ex-chefe de análise de dados da Unidade 8200, ingressou no escritório da Apple em Tel Aviv em 2022. Ofek Har-Even, oficial e gerente de longa data da unidade, é engenheiro de verificação de design na Apple desde 2022. Gal Sharon, ex-operador de sistemas de inteligência e analista de dados, também trabalha como engenheiro de design físico desde o mesmo ano.

Mayan Hochler e Shai Buzgalo, ambos ex-analistas e instrutores da Unidade 8200, ocupam cargos em design físico e engenharia de validação, respectivamente.

Software e segurança cibernética:

Ofer Tlusty, que serviu por quase seis anos na Unidade 8200 como analista de segurança e inteligência, trabalha como engenheiro de software na Apple desde 2021. Ofek Rafaeli, que serviu entre 2012 e 2016 e ascendeu a gerente de projetos durante o ataque de Israel a Gaza em 2016, tornou-se engenheiro de software na Apple em 2023.

Guy Levy, um ex-analista de inteligência, agora também trabalha como engenheiro de software.

IA, aprendizado de máquina e validação:

Avital Kleiman, um veterano de seis anos da Unidade 8200, agora é engenheiro de algoritmos de aprendizado de máquina na Apple. Niv Lev Ari, atualmente engenheiro de validação, observa em seu perfil no LinkedIn que recebeu uma carta de recomendação do comandante da Unidade 8200, Aviv Kochavi, por seu trabalho na unidade.

Outras funções técnicas:

Shahar Moshe, que trabalhou como especialista em inteligência na Unidade 8200 de 2012 a 2015, agora é engenheiro de verificação de projetos. Gil Avniel, que passou mais de cinco anos na unidade, atualmente atua como engenheiro de rede.

Uma maçã podre em seu centro

O número crescente de ex-agentes de inteligência israelenses trabalhando na Apple não parece preocupar a alta administração da empresa. O CEO Tim Cook é conhecido por suas opiniões fortemente pró-Israel e liderou a colaboração da gigante do Vale do Silício com o Estado israelense.

A Apple adquiriu várias empresas de tecnologia israelenses e agora opera três centros no país, empregando cerca de 2.000 pessoas. Em 2014, Cook convidou o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu para a sede da empresa em Cupertino, Califórnia, onde, diante das câmeras, os dois se abraçaram abertamente. No ano seguinte, Cook aceitou um convite do presidente Reuven Rivlin para visitar Israel. “É um grande privilégio receber você e sua equipe aqui”, disse Rivlin. “Mesmo para mim, que prefiro escrever com caneta e papel, fica claro o grande milagre que vocês criaram quando olho para minha equipe e meus netos.”

Elogios efusivos ao CEO da Apple também vieram na forma de honrarias concedidas por organizações pró-Israel. Em 2018, a Liga Antidifamação entregou a Cook seu primeiro Prêmio Coragem Contra o Ódio na Cúpula Never Is Now sobre antissemitismo e ódio, com a organização o descrevendo como um “líder visionário na comunidade empresarial”.

Após os ataques de 7 de outubro de 2023, Cook enviou um e-mail para toda a empresa expressando sua solidariedade com Israel. “Como muitos de vocês, estou devastado com os ataques horríveis em Israel e as notícias trágicas que chegam da região”, escreveu ele. “Meu coração está com as vítimas, aqueles que perderam entes queridos e todas as pessoas inocentes que estão sofrendo como resultado dessa violência.”

No entanto, de acordo com a Apples4Ceasefire – um grupo de ex-funcionários e funcionários da Apple que se opõem às ações israelenses em Gaza – ele ainda não se pronunciou publicamente sobre a devastação em massa causada pela resposta israelense após o 7 de outubro.

De fato, a empresa do Vale do Silício tem uma política de igualar as doações dos funcionários a grupos como o Friends of the IDF (Amigos das Forças de Defesa de Israel), que arrecada dinheiro para comprar equipamentos para os soldados das FDI, e o Jewish National Fund (Fundo Nacional Judaico), uma organização que participa do roubo e da destruição de terras palestinas.

Sob a liderança de Cook, funcionários da Apple foram disciplinados ou até mesmo demitidos por usarem broches, pulseiras ou keffiyehs em apoio ao povo palestino. No entanto, grupos como o Apples4Ceasefire continuam a se manifestar sobre o que descrevem como cumplicidade da Apple no genocídio.

A conquista tecnológica da Unidade 8200

Para ser justo, a Apple está longe de ser a única empresa de tecnologia ou mídia a contratar um grande número de ex-agentes da Unidade 8200. Uma reportagem da MintPress de 2022 revelou que centenas de veteranos da inteligência israelense trabalham no Google, Facebook, Microsoft e Amazon.

Talvez o mais notável deles seja Emi Palmor, um ex-funcionário do ministério da Justiça israelense que faz parte do Conselho de Supervisão do Facebook, composto por 21 pessoas. Descrito por Mark Zuckerberg como a “suprema corte” de sua plataforma, o conselho decide, em última instância, quais conteúdos são permitidos ou removidos da maior rede social do mundo. O Facebook tem trabalhado em estreita colaboração com o governo israelense para censurar ou remover conteúdos e contas palestinas.

Até mesmo o TikTok, muitas vezes visto como uma plataforma mais aberta, tem contratado ex-espiões israelenses para ajudar a gerenciar suas operações, de acordo com uma investigação realizada em novembro pela MintPress. Reut Medalion, por exemplo, serviu como comandante de inteligência da Unidade 8200 e liderou sua equipe de operações de segurança cibernética.

Em dezembro de 2023, durante o auge do ataque de Israel a Gaza, Medalion mudou-se para Nova York, para começar a trabalhar como gerente global de incidentes da divisão de confiança e segurança do TikTok. Considerando os eventos que estavam ocorrendo no mundo na época, vale a pena questionar que tipo de “incidentes globais” ela foi contratada para gerenciar.

Depois que a MintPress expôs o passado de Medalion para um público mundial, ela excluiu toda a sua presença digital da internet.

Ex-agentes da inteligência israelense também encontraram seu caminho para as redações americanas, moldando a cobertura jornalística do Oriente Médio. Uma recente investigação da MintPress revelou uma rede de ex-agentes da Unidade 8200 trabalhando em algumas das redações mais influentes dos Estados Unidos.

Entre eles está o correspondente da Axios Barak Ravid, cuja cobertura do Oriente Médio lhe rendeu o prestigioso Prêmio de Correspondentes da Imprensa da Casa Branca. Até pelo menos 2023, Ravid foi membro da Unidade 8200. A CNN também contratou pelo menos dois ex-agentes para produzir sua cobertura jornalística, dentre eles Tal Heinrich, que agora atua como porta-voz oficial do primeiro-ministro Netanyahu.

Dado esse padrão, a parcialidade do Vale do Silício em relação a Israel não deve ser surpresa. De gigantes da tecnologia como Google e Amazon a potências das mídias sociais como TikTok e Facebook, o campo está repleto de ex-espiões israelenses. A Apple não é exceção, tendo contratado dezenas, senão mais, de agentes da Unidade 8200 para administrar suas plataformas e moldar a empresa.

Esta investigação não afirma que o Estado israelense está deliberadamente se infiltrando no Vale do Silício. No entanto, o que ela sugere, sem dúvida, é que a perspectiva e os preconceitos gerais dessas entidades são fortemente pró-Israel. O que diz sobre a cultura do Vale do Silício que indivíduos com laços bem documentados com uma agência de espionagem estrangeira controversa sejam considerados contratações ideais?

É impensável que ex-agentes de inteligência do Hezbollah, do ministério de Inteligência do Irã ou do FSB ou GRU da Rússia sejam contratados em massa e recebam nossos dados mais confidenciais. No entanto, quando se trata de Israel (ou das agências de vigilância dos EUA), a resposta é diferente. Muitos desses funcionários nem mesmo são “ex-agentes”: são recrutados diretamente da Unidade 8200 enquanto ainda estão na ativa, apesar da lei israelense proibir explicitamente os membros do grupo de se identificarem ou divulgarem sua membresia.

Assim, parece que aqueles que, como os membros da Apples4Ceasefire, lutam para acabar com o duplo padrão da Apple, estão travando uma batalha difícil.


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