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4 de jul. de 2023

CORSÁRIOS E MERCENÁRIOS! (Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia na UFRGS - O Estado de S. Paulo, 03)

 Créditos Ex-Blog do César Maia




CORSÁRIOS E MERCENÁRIOS!


(Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia na UFRGS - O Estado de S. Paulo, 03)

Piratas eram aventureiros que viviam do saque e do assalto de embarcações, normalmente carregadas de riquezas, como o ouro explorado pelos espanhóis em suas colônias americanas. Distinguiam-se, porém, dos corsários na medida em que estes agiam sob a cobertura da Coroa de um país, prestandolhe serviços e fornecendo-lhe uma parte dos seus butins. Um dos mais famosos foi Sir Francis Drake a serviço da rainha Elisabeth I, tendo sido, precisamente por isso, agraciado com o título de “sir”. Constituíam uma espécie de armada dentro da Armada, respondendo diretamente à rainha. Tinham o reconhecimento régio.

Mercenários são, em terra, descendentes dos corsários, reportando-se diretamente ao presidente de um Estado, compartilhando com ele dos benefícios dos sucessos militares. Yevgeny Prighozhin é, nesse sentido, o corsário de Putin, respondendo até recentemente diretamente a ele, tendo, inclusive, independência, e não subserviência às Forças Armadas tradicionais. Um Exército dentro do Exército, com seus tentáculos se estendendo até a África, além da presença marcante na invasão russa à Ucrânia. Tudo indica, no entanto, que a criatura se voltou contra o criador.

A questão que se coloca, contudo, é por que o criador optou por compactuar com sua criatura rebelde, quando se sabe que Putin tem uma predileção por aniquilar seus críticos mais acerbos. Boa parte dos oligarcas que se insurgiu contra ele tropeçou em janelas de altos andares de vários hospitais, testando a Lei da Gravidade e se estatelando no chão. Outros foram objeto de envenenamento por intermédio de guarda-chuvas ou outro instrumento prosaico qualquer. Todavia, Prighozhin ganhou, pelo momento, um exílio tranquilo graças à intermediação de um ditador menor, Alexander Lukashenko, de Belarus – se é que pode haver tranquilidade em meio a autocratas violentos e arbitrários.

A razão da insurgência, muito provavelmente, se deve à diretriz do Ministério da Defesa, liderado por Serguei Shoigu, certamente com a anuência de Putin, obrigando os mercenários a se inscreverem nesse ministério, tornando-os de fato soldados regulares, com a obediência devida às autoridades militares. Algo, portanto, inadmissível para Prighozhin, que perderia a sua autonomia militar e econômica. Haveria, também, uma nova distribuição dos butins, seja nos contratos estatais, seja nos países africanos. Não convém esquecer que no modelo mercenários/corsários todos são sócios.

Para ter uma ideia da importância do Grupo Wagner, ele está presente em 13 países africanos, seja com atuação militar propriamente dita, seja com consultoria estratégica e influência política, seja em atividades econômicas como a exploração de minas de ouro. Estima-se

que sejam 5 mil homens muito bem treinados, aos quais se subordinam as tropas locais. Eis os países: Sudão, República Centro Africana, Líbia, Mali, Moçambique, Camarões, Madagascar, Burkina Faso, Congo, Guiné Equatorial, África do Sul, Zimbábue e Quênia. Note-se que os dirigentes desses país, alguns meros ditadores, fazem acordos de cooperação com a Rússia, que envia para sua implementação o Grupo Wagner. A cooperação se dá graças à ação conjunta, associada, de Putin e Prighozhin. Os prejuízos de ambos podem ser, aqui, múltiplos.

Putin e Shoigu tentaram restabelecer a autoridade estatal, depois de o primeiro ter usado e abusado da dualidade de poder por ele criada entre mercenários e militares. Ocorre, porém, que o tiro saiu pela culatra, pois expôs a fratura existente dentro do Estado russo, como se fossem lideranças mafiosas se digladiando. Ameaçado em suas posições, Prighozhin marchou para dentro do território russo, ocupando Rostov-on-Don, sem tiro disparar, contando, muito provavelmente, com o apoio de militares regulares. Seriam corsários tentando se apropriar da Armada. E empreenderam um avanço rumo a Moscou, abatendo quatro helicópteros e um avião em seu percurso. Putin considerou a sua ação um ato de traição e, no entanto, não enviou a sua Força Aérea para aniquilálos. Contentou-se com uma negociação, expondo a sua própria fragilidade.

O Estado russo sai fraturado do episódio. Independentemente de qual grupo emerja vencedor dentro da elite dominante, o caráter monolítico de seu governo se esfacelou. Quem decide tornou-se uma questão crucial, com os diferentes atores esforçando-se por guardar posições. Escancarou-se, igualmente, a ideologia da Grande Rússia, que tem em Alexander Dugin um dos seus expoentes, visto que o mercenário declarou que não havia ameaça ocidental à Rússia, como seus ideólogos quiseram fazer acreditar. Não apenas os eslavos ucranianos estão se mostrando melhores guerreiros que os eslavos russos, como o governo russo teve, inclusive, de recorrer ao líder checheno, Ramzan Kadyrov, para conter os avanços das tropas de Prighozhin.

A Coroa se fraturou, assim como se estilhaçou sua justificativa ideológica, graças a um corsário particularmente audacioso.

28 de fev. de 2023

Repercutimos a edição de 28/02/2023 do Ex-Blog do César Maia

 

DEPOIS DO TEMPORAL!

(Angela Alonso, professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Folha de SP, 26) Neste Carnaval, o desfile teve enredo de Gabriel García Márquez. Em "Crônica de uma Morte Anunciada", um cabra marcado para morrer vai trombando com conhecedores do risco que, distraídos com uma festa, não se mexem. Depois lamentam a efetivação do prenunciado.

Aqui também a simultaneidade de morte e festa tomou o noticiário, em atenção intermitente entre euforia e desespero. Depois de dois séculos de pandemia e quatro milhões de anos de desgoverno Bolsonaro, os brasileiros mereciam celebrar, vacinados e poupados de contendas sobre "golden shower". Mas a hesitação entre alegria e luto diz muito sobre o Brasil.

Uma abordagem dos eventos ganhou ares literários, enquadrado no gênero "tragédia". O termo dominou postagens e notícias, disseminando junto seu sentido de destino inelutável. Ninguém poderia deter forças sobre-humanas, uma revolta da natureza.

Outra pegada foi estadocêntrica. Cabia ao governo evitar e remediar. Lula entendeu que honrar os mortos e zelar pelos sobreviventes era mais importante que assistir a desfiles. A atitude do presidente surpreendeu porque a República se desacostumou a ter governo. O senso de responsabilidade uniu as autoridades competentes, sem picuinha partidária, em ação coordenada para prover no presente e prevenir no futuro.

Executivo, Legislativo e Judiciário podem atacar a especulação imobiliária, proteger áreas ambientais e garantir direitos de grupos vulneráveis. Mas a ação decisiva nem sempre é do Estado porque parte dos problemas não está sob sua alçada.

O acontecido no Sahy, antiga vila de pescadores, acontece em muitas partes. Os ricos são poucos e, no Brasil, pouquíssimos, mas são criadores de hábitos. Ir à praia de veraneio ficou tão massificado que parece costume imemorial, mas antes do século 20 ninguém tostava na areia. Os estratos altos inventam modas e se apropriam de espaços.

Logo, legião dos estratos médios corre sôfrega a imitá-los. Requisitam infraestrutura e serviços. Abre-se a temporada de excursões da CVC. Tudo a atrair os pobres, que serão os servidores. Por isso, mostrou o sociólogo Norbert Elias, modismos distinguem por pouco tempo. Os ricos, ao perderem um paraíso, fogem para outro, "exclusivo". Deixam atrás de si o rastro da ocupação predatória que convocaram. Ao migrar, levam a dinâmica consigo, com seus imitadores e empregados. E um novo lugar intocado vira outro conspurcado.

É uma corrida segregacionista. A busca por distância social orienta as escolhas de locais de moradia e lazer dos estratos altos. Como no Carnaval, anseiam por insulamento, em camarotes de abadás caríssimos, frequentados por celebridades de cachês exorbitantes, religiosamente registradas nas mídias. É uma gente que se diverte, se casa e negocia entre si. A ação do Estado é pouco eficaz sobre esse padrão inscrito num modo de vida.

O Momo volta todo ano, assim como o drama. No clímax, a ação caridosa dos ricos "conscientes" de sua "situação privilegiada" sobe aos píncaros. Depois some, como uma fantasia guardada para o próximo desfile.

Passada a comoção, volta a vida segregada, bem como as reclamações sobre a falta de empreendedorismo dos pobres e a inépcia do Estado. Sob essa pressão, os governos tornam a responder aos reclamões. Enquanto isso, os sob risco são enxotados de manchetes de jornais e feeds de influencers. Retornam às suas vidas invisíveis, na espera pelo próximo temporal.

Créditos Ex-Blog do César Maia

1 de fev. de 2023

RODRIGO MAIA PRESIDIRÁ ENTIDADE QUE REÚNE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS! (Painel - Folha de SP, 31)

 


RODRIGO MAIA PRESIDIRÁ ENTIDADE QUE REÚNE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS!



(Painel - Folha de SP, 31) Presidente da Câmara dos Deputados entre 2016 e 2021, Rodrigo Maia assume nesta quinta-feira (2) a presidência da CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), que reúne algumas das principais entidades do setor.

Ele terá mandato de três anos e representará a confederação nas discussões sobre a agenda econômica do país.

"Estamos vivendo uma revolução sem precedentes no setor, em todos os segmentos. O ecossistema financeiro é uma grande alavanca para o desenvolvimento. Precisamos dialogar com os Poderes e a sociedade", diz Maia, que não disputou a eleição no ano passado, após seis mandatos consecutivos como deputado federal.

A CNF foi criada em 1985. Entre seus filiados estão Febraban (Federação Brasileira de Bancos), B3, Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), ABBC (Associação Brasileira de Bancos), Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), ABBI (Associação Brasileira de Bancos Internacionais), Abel (Associação Brasileira de Empresas de Leasing), Ancord (Associação Nacional das Corretoras de Valores) e Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços).

Após deixar a presidência da Câmara, Maia foi nomeado secretário estadual em São Paulo no governo de João Doria, em uma pasta responsável por investimentos e parcerias com a iniciativa privada.

5 de dez. de 2022

PRECISAMOS FALAR SOBRE A FORÇA DA DEMOCRACIA! (Fareed Zakaria – Washington Post/O Estado de SP, 04)

 

PRECISAMOS FALAR SOBRE A FORÇA DA DEMOCRACIA!

(Fareed Zakaria – Washington Post/O Estado de SP, 04) Ao longo dos meses recentes, temos nos preocupado muito com a fragilidade da democracia. Dos EUA ao Brasil, da Suécia à Itália, o sistema pareceu enfrentar desafios reais. Na realidade, em todos esses casos, eleições surtiram o efeito de domar muitas das forças mais iliberais e, pelo menos por agora, o centro está mantido. Enquanto isso, testemunhamos sinais de fraquezas profundas e estruturais em algumas das autocracias mais poderosas do mundo. O exemplo mais marcante é a China, onde uma extraordinária onda de protestos confronta os poderes existentes. No cerne do problema está a falta de vontade do governo de mudar o curso em relação à sua política anticovid. Trata-se de um problema inerente às ditaduras, onde a tomada de decisão é feita a portas fechadas, de maneira hierárquica e incapaz de ser responsabilizada. Ao contrário dos autocratas, os líderes democráticos são submetidos a pressões persistentes para mudanças de política. Os líderes sabem que passarão por eleições, então, se as coisas não estão funcionando, as políticas têm de mudar – ou então eles serão substituídos.

CHINA.

Esses problemas se agravaram em sociedades modernas. Considerem a diferença entre a China da época dos protestos liderados por estudantes na Praça Tiananmen, em 1989, e a China de hoje. No fim dos anos 80, o número de chineses urbanos com grau universitário estava na casa de poucos milhões. Hoje, mais de 200 milhões de chineses têm nível universitário. Até o lendário “great firewall” (expressão que alude à Grande Muralha da China) – com seu exército de 2 milhões de censores – tem dificuldades para dar conta da torrente de imagens e mensagens criadas nas redes sociais chinesas. Nos anos recentes, tendemos a colocar o foco nos muitos problemas causados pelas redes sociais, mas esquecemos que o efeito fundamental delas é empoderar indivíduos. Na Rússia, vemos como um processo de tomada de decisão similarmente fechado e indiferente pode levar ao desastre. Como resultado da guerra do presidente Vladimir Putin, seu país está cada vez mais isolado e empobrecido. Putin mobilizou 300 mil reservistas, muitos deles relutantes sobre combater na Ucrânia. Ao mesmo tempo, centenas de milhares de russos fugiram de seu país. No Irã, vemos uma autocracia teocrática determinada a manter seu controle ideológico sobre o país. As elites governantes do Irã acreditam que sua versão fundamentalista do Islã deve ser imposta – ou terão o mesmo destino dos comissários soviéticos. Em contraste, democracias liberais não tentam impor ideologias que lhes agradem sobre seus povos. Em seu cerne está a convicção profunda e permanente de que os seres humanos devem ter liberdade de escolher suas formas pessoais de felicidade – e o respeito ao fato de que pessoas diferentes terão definições diferentes sobre uma vida boa.

TRANSFORMAÇÃO.

Autocracias podem parecer impressionantes por certo tempo porque são capazes de ser constantes, consistentes e implacáveis na busca de objetivos. Mas enfrentam um desafio fundamental: têm dificuldade para se ajustar a uma sociedade em transformação (a China foi exceção por algum tempo, criando uma forma incomum de ditadura com base em consenso, tecnocrática e responsiva. Mas, sob Xi Jinping, o regime reverteu para algo mais parecido com a norma autocrática). Portanto, o reflexo do autocrata à mudança é repressão, que funciona apenas durante um determinado período. É estarrecedor recordar que, quando os pais fundadores dos EUA construíam seu experimento de governo, estavam virtualmente sozinhos em um mundo de monarquias. Esses políticos se inspiraram nos escritos dos filósofos do Iluminismo, como Montesquieu e John Locke, estudando exemplos históricos da Grécia antiga e Roma – e incorporando elementos vitais da governança inglesa e do direito comum. Eles tiveram alguns fracassos. Mas, no fim, chegaram a um arranjo surpreendente: um sistema que protege direitos individuais, permite mudanças regulares na liderança, evita hegemonias religiosas e cria uma estrutura flexível o suficiente para se adaptar a grandes transformações. A democracia é frágil de sua própria maneira, mas este é um bom momento para considerar suas forças. Essa ideia abstrata de governo, criada em grande medida pelos EUA e seguida ao longo dos anos por incontáveis nações, espalhou-se para países ricos e pobres, europeus, asiáticos, latino-americanos e africanos. E é submetida ao crivo do tempo há dois séculos e meio. Alguém acha que os regimes de Rússia, China ou Irã durarão tanto quanto? Winston Churchill foi certamente justificado em sua convicção de que a democracia é a pior forma de governo – exceto por todas as demais.

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17 de out. de 2022

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA! (Rubens Barbosa - O Estado de S. Paulo, 11) --- repercutimos o Ex-Blog do César Maia

 



INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA!


(Rubens Barbosa - O Estado de S. Paulo, 11) O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, em entrevista recente, deu informações sobre entendimentos mantidos com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e com os EUA para, “em vista da importância da crise climática, ter ajuda na região da Floresta Amazônica”. Disse que “tinha conseguido alcançar importantes objetivos com os EUA e a Otan”. “Com os EUA, o que estou tentando é levar o diálogo para outras áreas, além do combate às drogas, que fracassou.” “Foi criada a primeira unidade militar, com 12 helicópteros Black Hawk, mais de polícia do que militar, para ajudar a combater as queimadas na Amazônia.” “Será uma mudança completa no que a ajuda militar dos EUA tem sido até aqui. É uma grande conquista. Já há três helicópteros em ação. Vou continuar nesta linha porque me parece que neste caminho podemos construir um diálogo muito mais positivo com os EUA.” Por outro lado, Petro mencionou que “o objetivo das conversas com a Otan, da qual somos parte, é trazer a Organização do Tratado do Atlântico Norte para cuidar da Floresta Amazônica, para emprestar colaboração tecnológica”.

A Colômbia mantém, desde 2015, um acordo de cooperação com a Otan no tocante a segurança eletrônica, marítima, crime organizado e terrorismo. A Colômbia é o único parceiro global latino-americano da Otan e o primeiro país sul-americano a concluir um acordo de cooperação com a organização.

A aproximação com a Otan naquela época, por influência dos EUA, pode ser atribuída à presença da Rússia e da China na Venezuela e às tensões ideológicas e políticas com o vizinho, cuja relação está hoje normalizada. Por outro lado, Joe Biden, no dia 21 de setembro passado, em comunicação à presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, formalizou a designação da Colômbia como um aliado estratégico fora da Otan. Em comunicado divulgado pela Casa Branca, Biden afirma que essa designação é “um reconhecimento da importância da relação entre os EUA e a Colômbia e das contribuições cruciais da Colômbia para a segurança regional e internacional”. “A Colômbia é a pedra angular de nossos esforços compartilhados para construir um hemisfério próspero, seguro e democrático.” O status de “aliado importante não pertencente à Otan” é concedido pelos EUA a 18 países, com benefícios em questões militares e comerciais, inclusive a Argentina, desde 1998, e o Brasil, desde 2019, incluído por Donald Trump, até agora os únicos latino-americanos.

A iniciativa colombiana de chamar a Otan e os EUA para ter presença na Amazônia deve ser vista com cautela, mas, do ponto de vista do Brasil, se confirmada, é de extrema gravidade por suas possíveis implicações estratégicas, ambientais, políticas e de defesa.

O novo conceito estratégico da Aliança Atlântica definido em 2010 ampliou o escopo e o raio de atuação da aliança – não mais restrito ao teatro europeu, como ocorre hoje no conflito na Ucrânia e no Indo-pacífico. Uma interpretação literal desse conceito indica que a Otan passaria a poder intervir em qualquer parte do mundo, inclusive no Atlântico Sul, para defender os interesses dos países-membros em áreas como agressões ao meio ambiente, antiterrorismo, ações humanitárias, tráfico de drogas, ameaças à democracia, entre outras. O governo brasileiro, naquele momento, por meio do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, expressou reservas “às iniciativas que procurem, de alguma forma, associar o ‘norte do Atlântico’ ao ‘sul do Atlântico’, área geoestratégica de interesse vital para o Brasil”. “As questões de segurança relacionadas às duas metades desse oceano são distintas.”

Mais de dez anos depois, as considerações de Jobim, que refletiam o pensamento prevalecente entre os militares e o da diplomacia nacional, são ainda mais relevantes, no contexto da adesão colombiana à estrutura da Otan e da anunciada intenção dos EUA de retomar sua influência no Hemisfério Ocidental, em face da presença crescente da China e da Rússia na América do Sul, numa espécie de ressurreição da Doutrina Monroe.

Além dessas considerações estratégicas, há duas preocupações permanentes do governo brasileiro, em particular das Forças Armadas e do Itamaraty: a internacionalização da Amazônia e a criação de bases militares de países de fora da região em países vizinhos – ambas possibilidades presentes na evolução futura da posição da Colômbia. Sem falar na perspectiva de aumento das tensões em nossa fronteira, pela presença da China e da Rússia na Venezuela. O vácuo de soberania existente em partes da Amazônia e a ausência de uma política externa proativa na América do Sul, inclusive pela necessidade, neste caso, de invocação do Tratado de Cooperação Amazônica, abrem caminho para que iniciativas como a anunciada pelo presidente colombiano preencham o vazio deixado pela omissão voluntária da maior nação do subcontinente.

Como parte da inserção soberana no cenário global, é urgente restabelecer a prioridade para o entorno geográfico, com uma nova atitude em relação à Amazônia. Sem isso, crescem os riscos de o Brasil ter de lidar com desdobramentos estratégicos imprevisíveis no seu entorno, determinados por atores estrangeiros e potencialmente contrários aos interesses nacionais.




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31 de ago. de 2022

LFS INTERNACIONAL --- IRÃ FECHA FRONTEIRA COM IRAQUE APÓS CONFRONTOS POR RENÚNCIA DE CLÉRIGO! (O Estado de SP, 31)


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IRÃ FECHA FRONTEIRA COM IRAQUE APÓS CONFRONTOS POR RENÚNCIA DE CLÉRIGO!  (O Estado de SP, 31)

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8 de ago. de 2022

Repercutimos o Ex-Blog de César Maia - CRIANÇAS E ADOLESCENTES NUM PAÍS FAMINTO! (Raquel Franzim e Ana Claudia Cifali respectivamente, diretora de educação e culturas infantis do Instituto Alana e coordenadora jurídica do Instituto Alana - O Estado de S. Paulo, 07)

 

CRIANÇAS E ADOLESCENTES NUM PAÍS FAMINTO!

(Raquel Franzim e Ana Claudia Cifali respectivamente, diretora de educação e culturas infantis do Instituto Alana e coordenadora jurídica do Instituto Alana - O Estado de S. Paulo, 07) Ao longo dos primeiros 18 anos de vida, a criança e o adolescente vivem transformações físicas, cognitivas e emocionais que estruturam os anos que seguem e a vida adulta. Esse período, que é breve, produz efeitos duradouros. É por isso que o dado revelado de que o número de pessoas passando fome dobrou do final de 2020 para o começo de 2022 em lares do País com crianças de até 18 anos (25,7% das famílias) é o anúncio da tragédia humanitária que vivemos no presente com potencial de arruinar uma geração inteira no futuro. Durante as férias escolares, com a interrupção da oferta de merenda escolar, este quadro se agrava ainda mais.

Apenas 26% das crianças de 2 anos a 9 anos no Brasil fazem três refeições por dia. Famílias negras e chefiadas por mulheres são as mais impactadas, escancarando como a raça e o gênero são características decisivas para uma vida de privações e para a desigualdade na garantia de direitos em nosso país. A alimentação é o direito social mais básico da vida humana. A interrupção do acesso regular e permanente à alimentação de qualidade e em quantidade suficiente gera um efeito cascata nos demais direitos, impactando o desenvolvimento e freando a autonomia humana, essencial para um Estado Democrático de Direito.

Uma criança que passa fome não deveria preocupar apenas sua família: é a demonstração de que toda a responsabilidade compartilhada prevista no artigo 227 da Constituição federal falhou. Falhamos nós, sociedade e suas instituições, e falham os governos, que deveriam protegê-la acima de tudo, em primeiríssimo lugar, de toda ordem de violência e crueldade que a fome provoca.

Entre os direitos sociais mais afetados ao passar fome encontra-se o direito à educação. Tanto não há condições para aprender, participar e se desenvolver integralmente que o País criou ainda em 1954 o consolidado Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Posteriormente, foi incorporado como direito na Constituição federal de 1988 nos artigos 205 e 208 como um programa suplementar, ou seja, fundamental na garantia de qualidade na educação.

Responsável por garantir 15% das necessidades nutricionais básicas da vida, o programa é uma política pública baseada em evidências que comprovam que, do ponto de vista cognitivo, a desnutrição infantil prejudica o desenvolvimento da atenção, a memória, a leitura e a aprendizagem de linguagens como um todo.

A equação é simples: com menos energia e nutrientes, a performance ao participar da vida escolar diminui e as dificuldades de aprendizagem aparecem. Importante destacar que a fome provoca efeitos sistêmicos no desenvolvimento da criança, desde o crescimento neuromotor abaixo do esperado até, também, prejuízos em habilidades socioemocionais como iniciativa e tomada de decisão. Além disso, permanecer na escola nessas condições se mostra difícil, em alguns casos gerando o abandono escolar para busca de trabalho na tentativa de ampliar a renda familiar, como aponta relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 2020.

Por isso, uma boa alimentação escolar é fundamental, inclusive no período de férias, com programas próprios e específicos para alcançar as crianças e adolescentes que passam fome. Ainda que não responda a todo o problema da fome e da pobreza, a alimentação escolar faz parte da adoção de uma estratégia multidimensional, que inclui a elevação da agenda como prioridade política, com programas consistentes de redistribuição de recursos, assistência, renda e trabalho, sobretudo para as famílias mais afetadas. Infelizmente, dados revelam que o País não apenas deixou de apresentar essas soluções, como, em virtude das escolhas políticas recentes do governo federal, empurrou mais pessoas para a privação alimentar.

Com baixa competência técnica do Ministério da Educação (MEC) para resolver os problemas estruturais do setor durante a pandemia de covid-19, o governo federal tem priorizado questões irrelevantes para a população, entre elas o ensino domiciliar, e passa a escrever, agora, mais um capítulo desesperador. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão técnico vinculado ao MEC, palco recente de disputas políticas, vem nos últimos anos reduzindo a previsão e a execução orçamentárias do Pnae. Segundo dados do próprio governo federal no Portal da Transparência, a tendência é de diminuição de recursos destinados à alimentação escolar. Tudo isso em meio ao agravamento do cenário da fome.

Em outubro, o País passará por eleições para os governos federal, estaduais e para o Legislativo. Sem ter os direitos de todas as crianças e os adolescentes (especialmente os que passam fome) priorizados hoje, no centro do debate e das políticas públicas, o amanhã pode ser tarde demais para eles e para todos nós como sociedade e país.

13 de jul. de 2022

15 de jun. de 2022

Repercutimos a edição atual do Ex-Blog do César Maia: QUEM FOI BÁRBARA PEREIRA DE ALENCAR, REVOLUCIONÁRIA E PRIMEIRA PRESA POLÍTICA DO BRASIL! (Fernanda Mena – Folha de SP, 11)

 


QUEM FOI BÁRBARA PEREIRA DE ALENCAR, REVOLUCIONÁRIA E PRIMEIRA PRESA POLÍTICA DO BRASIL!


(Fernanda Mena – Folha de SP, 11) Inimiga do rei, agitadora, revoltosa, conspiradora, liberal, sanguínea, nervosa, mulher-macho.

Uma rica sinhá sertaneja desafiou os costumes e os tabus de seu tempo e também o poder da Coroa portuguesa ao participar da articulação política que proclamou uma república no Vale do Cariri, onde o Ceará encontra Pernambuco.

Tamanha ousadia lhe rendeu a série de alcunhas que abrem este texto, mas também a denominação de patriota, e fez dela a primeira presa política do Brasil –ainda que pouca gente tenha aprendido sobre ela nas aulas de história.

Bárbara Pereira de Alencar era viúva, tinha 57 anos e cinco filhos criados quando tomou parte ativa do movimento que incendiou o Nordeste brasileiro, no rastilho das ideias iluministas de liberdade, igualdade e participação política que desembarcavam no porto do Recife.

Única mulher branca e rica proprietária de terras a participar da Revolução Pernambucana de 1817, dona Bárbara, como era conhecida, integrou a articulação precursora da Independência e da República no Brasil, uma luta que marcou sua trajetória de vitórias, derrotas e sacrifícios, antes de relegá-la ao esquecimento.

A Revolução Pernambucana foi um movimento que se opôs, de uma só vez, ao domínio português e ao regime monarquista e elaborou uma ideia de pátria para além do antigo regime e do sistema colonial, ainda que paradoxalmente mantivesse intacto o estatuto da escravidão.

Os insurgentes declararam independência da então província de Pernambuco cinco anos antes do suposto grito de dom Pedro 1º às margens do rio Ipiranga, em 1822. Derrubada a monarquia, instauraram ali uma república mais de 70 anos antes de Deodoro da Fonseca, o marechal, expulsar o imperador e a família real do Brasil em 1889.

O chamado revolucionário bateu à porta de dona Bárbara na noite de 29 de abril de 1817, quando seu filho mais novo, o então seminarista José Martiniano de Alencar, apareceu inesperadamente no Crato.

Ele havia viajado mais de 600 quilômetros desde o Seminário de Olinda, que havia se tornado uma espécie de centro irradiador das ideias iluministas derivadas da Guerra de Independência dos Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1789-1799).

O seminário era reduto de freis próximos da família Alencar e, particularmente, de Bárbara. Sua pregação liberal era recebida com entusiasmo pela aristocracia agrária brasileira da região, incomodada com a alta de impostos da Coroa e com o deslocamento do eixo econômico e político da colônia para o Rio de Janeiro, onde aportara a família real portuguesa em 1808, fugida das invasões de Napoleão Bonaparte na Europa.

Naquela noite de abril, o então subdiácono José Martiniano de Alencar chegou à casa da mãe, no sítio do Pau-Seco, não só como filho, mas também como emissário do novo governo revolucionário instaurado no Recife.

Sua missão era levar a conspiração ao Ceará e libertar a província do domínio português a partir do Vale do Cariri. Há registros de que sua mãe, Bárbara, teria atuado na costura de apoio entre os poderosos da região.

A articulação partia do princípio de que a vanguarda política tinha como limite a manutenção da escravatura –uma condição para colher apoio no mando local, todo escravocrata, assim como os Alencar.

Dias depois, José Martiniano deu início à insurreição política durante a missa na igreja matriz do Crato, quando subiu ao púlpito e leu o manifesto dos rebeldes patriotas.

Aplaudido, hasteou ali a bandeira branca da independência e seguiu com o público da missa para a frente da Câmara, onde o grupo deu vivas à República e "morras ao rei", para escândalo dos apoiadores da Coroa.

José Martiniano seria depois sacralizado não pela proclamação desta República do Crato, mas como senador do Império, presidente da província do Ceará e pai do escritor romântico José de Alencar, autor de obras clássicas da literatura brasileira como "O Guarani" e "Senhora".

A reação foi rápida, e seu foco era prender os líderes da revolução. Três deles eram filhos de Bárbara. Ela mesma, a única mulher da lista de insurgentes, foi classificada pelo juiz como "muito culpada".

"Bárbara foi acusada de queimar papéis", conta a historiadora Danielly Teles, pesquisadora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "Sabemos muito pouco sobre o papel dela na revolução. Bárbara é uma personagem construída e fica difícil ter noção do que ela realmente fez", aponta.

"A participação política feminina nesse período, em que a mulher se movimenta de acordo com o que é possível, não se resume apenas a pegar em armas", explica Teles, autora de artigo sobre Bárbara que integra o quinto dos seis volumes da coletânea "Brasil: Independências".

Para a historiadora, Bárbara de Alencar pode ser considerada uma mulher revolucionária da época, ainda que não tenha sido a única a se engajar em lutas políticas. "Ela representou a imagem de uma mulher forte, do sertão, que fugia dos padrões estabelecidos. Uma matriarca", diz.

O movimento republicano pernambucano foi chamado pelo historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) de a mais "linda, inesquecível, arrebatadora e inútil das revoluções brasileiras" e resistiu por 75 dias à repressão das armas da Coroa Portuguesa antes de sucumbir.

Já sua versão cearense, conspirada e celebrada em serões, jantares e encontros no salão da casa de dona Bárbara, teve vida bem mais curta: a República do Crato durou apenas oito dias até que as ordens da Coroa levassem ao hasteamento de sua bandeira onde antes se via a flâmula dos revolucionários.

A contrarrevolução foi ágil, violenta e cruel. Levou Bárbara e três de seus filhos para as masmorras do quartel-general da capital cearense, a fortaleza Nossa Senhora de Assunção, construção que batizou a cidade.

Bárbara, uma mulher descrita como alta e forte, foi tratada como troféu e exibida pedagogicamente a cada povoado ao longo dos 500 quilômetros que separam o Vale do Cariri de Fortaleza. A viúva rebelde percorreu o trajeto acorrentada e a galope, desmilinguida sob o sol de verão do sertão cearense. Esse era só o começo de seu calvário.

Nascida na cidade de Exú (Pernambuco) em 1760 em uma família rica, proprietária de terras e de negros escravizados, Bárbara de Alencar cresceu acostumada ao poder e se tornou uma mulher livre e emancipada para os padrões da época.

"Era uma mulher decidida, abastada, que aprendeu desde cedo a ser dona do próprio nariz", diz a jornalista cearense Ariadne Araújo, autora de "Bárbara de Alencar", para o qual, afirma, montou um quebra-cabeças sobre a heroína sertaneja diante do desafio de obter informações a seu respeito.

"Ela se casou muito cedo e com um homem 30 anos mais velho, a contragosto do pai, o que demonstrava sua personalidade obstinada", afirma.

Casada, mudou-se para o sítio Pau Seco e passou a administrar o engenho de cachaça e rapadura e a produzir tachos contra a vontade do marido. Para o pensamento da época, essas eram atividades para homens, o que rendeu a Bárbara a imagem de mulher-macho.

"Nessa época, era o homem quem se colocava publicamente e nos negócios, mas Bárbara, ao contrário, não aceitava papel de bastidor", diz Araújo. "Ainda assim, ela não era totalmente transgressora: estava na vanguarda de alguns comportamentos e na tradição de outros. Não era abolicionista, mas era tratada como madrinha dos seus escravos, por exemplo."

O escritor cearense Gylmar Chaves, que pesquisa a vida de Bárbara de Alencar há mais de dez anos para uma biografia, conta que ela mantinha escravizados muito próximos.

Um deles, conhecido como Barnabé, teria sido pego e torturado pelos soldados da Coroa para revelar o paradeiro da sinhá, fugida de suas terras. "Para não traí-la, ele decepou com os dentes a própria língua e a cuspiu aos pés do torturador", diz Chaves.

De rica e poderosa proprietária, Bárbara passou quase quatro anos em masmorras e calabouços fétidos de Fortaleza, Recife e Salvador, com o corpo machucado pelos grilhões de ferro que carregava, enfraquecida pela má alimentação e pelas crueldades de alguns carcereiros.

Todos os seus bens foram confiscados pela Coroa e leiloados. A principal propriedade da família foi arrendada pelo rival e delator dos revolucionários, padre Francisco Gonçalves Martins, segundo Araújo.

No final de 1820, Bárbara foi posta em liberdade. Também soltos, seus dois filhos mais velhos, Tristão e Carlos, retomaram a luta revolucionária. Queriam se libertar de Portugal e, portanto, derrubar dom Pedro 1º.

Outorgada em 1824, a primeira Constituição na nação recém-independente não foi aceita pelos pernambucanos, que criaram a Confederação do Equador, organizada por frei Joaquim do Amor Divino Rabelo (1779-1825), mais conhecido como frei Caneca.

A Confederação tinha em Tristão uma liderança importante e reunia outras províncias do atual Nordeste, como Piauí, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, em um regime federalista em que cada unidade manteria sua soberania e autonomia, a exemplo dos EUA.

Dom Pedro se organizou para reprimir os confederados e contratou mercenários ingleses, que promoveram um banho de sangue no Recife, executado por um exército de 3.500 homens. Segundo Araújo, os ingleses saquearam e incendiaram a capital pernambucana, último bastião da resistência, mas lideranças confederadas ainda não aceitaram a derrota.

Tristão, considerado presidente da Confederação no Ceará, foi morto dias depois pelas tropas imperialistas. Seu corpo mutilado ficou exposto por dias, postado de pé, com a mão direita decepada. Carlos, outro filho de Bárbara, também foi brutalmente assassinado, assim como outros 11 parentes do clã Alencar.

"As manifestações de poder da repressão da Coroa foram muito mais fortes e violentas em 1817 e em 1824 que durante a Inconfidência Mineira [1789]", afirma Maria Eduarda Marques, doutora em história e curadora da exposição "Revolução de 1817", organizada na Biblioteca Nacional por ocasião do bicentenário do levante iniciado em Pernambuco.

Exilada em uma fazenda entre o Ceará e o Piauí, Bárbara de Alencar morreu em 1832, aos 72 anos de idade. Seus restos foram sepultados na capela de Itaguá, local depois batizado de Poço das Pedras, em Campos Sales, no Ceará.

Para Marques, o Brasil vive um momento de resgate de nomes da história, e Bárbara emerge como uma figura de peso nessas descobertas. "Estamos desmistificando a história mainstream, o que abre possibilidades de uma visão mais diversificada da história brasileira e menos centrada no heroísmo clássico e nas figuras masculinas e brancas."

Em um artigo ainda inédito, Danielly Teles lembra que, em 2014, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou uma lei que ordenava que Bárbara Pereira de Alencar integrasse o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, fazendo dela uma das poucas mulheres a receber a homenagem.

Para a pesquisadora, Bárbara de Alencar é "uma mulher que buscou pensar e fazer política, se movimentando e articulando relações em uma sociedade construída sobre as bases de um sistema de relações desiguais".

13 de jun. de 2022

NÃO IMPORTA DE ONDE VEM A COMIDA EM MEIO À FOME! (Ishaan Tharoor - O Estado de S. Paulo, 10) ----- Ex-blog do César Maia - Edição 13/06/22

 

NÃO IMPORTA DE ONDE VEM A COMIDA EM MEIO À FOME!

(Ishaan Tharoor - O Estado de S. Paulo, 10) Pense nisso como a guerra além da guerra. A invasão da Ucrânia e a ofensiva militar russa causaram destruição e deixaram dezenas de milhares de mortos. Mas a crise também teve efeitos dramáticos em todo o mundo. O efeito cumulativo dos ataques russos à Ucrânia e o bloqueio de seus portos no Mar Negro, assim como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de conflito. Nos países mais pobres da Ásia e da África, o custo de produtos básicos, como trigo e óleo de cozinha, disparou e criou tensões para as sociedades que menos podem comprá-los. Somente no Chifre da África, até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano em meio à escassez de alimentos e seca prolongada.

Agora, governos estrangeiros estão lutando por opções para liberar a imensa oferta de produtos agrícolas da Ucrânia, principalmente trigo. Autoridades ucranianas dizem que 20 milhões de toneladas de grãos estão presas no país.

ACORDO. Por meio de canais diplomáticos, autoridades ucranianas exploram a possibilidade de transferir o carregamento de grãos por trem para portos no Mar Báltico e para a vizinha Romênia. Mas há problemas logísticos, incluindo se esses portos têm capacidade para acomodar os encargos crescentes.

As construções da época da Guerra Fria também são um obstáculo. “Ucrânia, Rússia, Lituânia e outros ex-membros da União Soviética usam o padrão russo de bitola ferroviária (estreita)”, explica o Wall Street Journal.

Para piorar, autoridades dos EUA citam evidências de navios russos transportando grãos ucranianos “roubados” de portos sob seu controle e destruindo produtos alimentícios na Ucrânia, exacerbando a insegurança alimentar global.

Entre 2018 e 2020, a África importou 44% de seu trigo de Rússia e Ucrânia. Desde as recentes interrupções, os preços do trigo subiram 45%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento. A maioria dos países do continente na Assembleia Geral da ONU votou para condenar a invasão da Ucrânia.

Mas, em tempos de crise econômica, importa menos para os países distantes do conflito como eles recebem seus alimentos e quem os está enviando.

10 de jun. de 2022

Repercutimos a Edição 10/06/22 do Ex-Blog do César Maia --- VALE DO JAVARI, ONDE INDIGENISTA E REPÓRTER DESAPARECERAM, É ALVO DE COBIÇA DO COMANDO VERMELHO! (O Estado de SP, 08)

 

VALE DO JAVARI, ONDE INDIGENISTA E REPÓRTER DESAPARECERAM, É ALVO DE COBIÇA DO COMANDO VERMELHO!

(O Estado de SP, 08) A região do Vale do Javari, onde desapareceram após ameaças o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, sofre reflexos de um misto de atividades clandestinas que vai além da extração de madeira e do garimpo. Desde os anos 2000, a região passou a ser alvo de disputa entre facções de narcotraficantes brasileiros, por ser estratégica para escoamento de armas e drogas - produzidas no Peru e na Colômbia e que abastecem o mercado brasileiro e o europeu, atravessando os rios e portos brasileiros. As facções mais presentes são o Comando Vermelho (CV), originário do Rio de Janeiro, e a Família do Norte, bando criado na periferia e nas cadeias de Manaus, mas que teve como trunfo o controle da chamada Rota do Solimões por alguns anos.

Essa facção local ficou conhecida em 2017, quando comandou execuções brutais no sistema prisional do Amazonas, num sinal do que seria o rompimento do acordo nacional entre as duas maiores organizações criminosas do País, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de origem paulista, que também tentava o controle do Solimões, e o CV. À época, a FDN era parceira do CV e executou integrantes do PCC. Atualmente, FDN e CV disputam territórios.

A FDN foi alvo de uma operação da Polícia Federal, batizada “La Muralha”, que dissecou a organização. Investigações registradas pelo Ministério Público documentaram conexões da FDN com outro agente transnacional da região, os guerrilheiros colombianos das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), do qual restam frentes dissidentes, depois da deposição de armas com acordo de paz. Segundo o MPF, eles foram fundamentais para o acesso da FDN a armamentos.

Além dessas três facções, também surgiu em Tabatinga (AM) o bando local “Os Crias”, formado a partir de 2019, por alianças entre criminosos que estavam antes ligados às maiores facções. Policiais já encontraram documentos com referências a “Os Crias” na Unidade Prisional de Tabatinga, em abril .

A presença de “Os Crias” na tríplice fronteira foi catalogada pela publicação Cartografias das Violências na Região Amazônica, publicada em fevereiro pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O documento também indica que, do lado colombiano, a organização de narcotraficantes Caqueteños tem o maior controle no Amazonas.

A área em que Pereira e Phillips sumiram fica próxima à tríplice fronteira, sendo as principais cidades Santa Rosa, no Peru, Letícia, na Colômbia, e Tabatinga, no Amazonas. Os mesmos rios e igarapés onde as buscas são feitas servem aos traficantes como forma de escape. Os rios Amazonas e Javari são parte da rota. Autoridades já colheram indícios de que as organizações trabalham na extrativismo, com madeira e garimpo.

Militares dizem que as comunidades ribeirinhas e povos indígenas sofrem com a ausência do Estado e de oportunidades de renda, o que facilitou com que se alastrasse, nessa região permeável, uma mistura de atividades ilegais a girar a economia local.

As investigações em curso ainda não descartam nenhuma hipótese do paradeiro de Pereira e Phillips. A Polícia Federal concentra as apurações e recebeu apoio de militares das Forças Armadas. Um oficial relatou que as principais hipóteses são três: que ambos estejam em local isolado, provavelmente com indígenas; que tenham sofrido algum acidente; ou que tenham sido emboscados e mortos por marginais.

4 de mai. de 2022

ECONOMIA --- Repercutimos a edição 04/05/2022 do Ex-Blog do César Maia --- ERRO DE DIAGNÓSTICO E ATRASO DOS BCS LEVARAM À RECESSÃO! (Paulo Leme - O Estado de S. Paulo, 01) -

ECONOMIA  ---   Repercutimos a edição 04/05/2022 do Ex-Blog do César Maia  ---  

ERRO DE DIAGNÓSTICO E ATRASO DOS BCS LEVARAM À RECESSÃO!  

(Paulo Leme - O Estado de S. Paulo, 01) - 

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3 de mai. de 2022

Repercutimos a Edição 03/05/2022 do Ex-Blog do César Maia ---- COLEÇÃO FOLHA PUBLICA 'LEVIATÃ', CLÁSSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA, DE THOMAS HOBBES! (Folha de SP, 29)

 

COLEÇÃO FOLHA PUBLICA 'LEVIATÃ', CLÁSSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA, DE THOMAS HOBBES!

(Folha de SP, 29) A Coleção Folha Os Pensadores traz um dos maiores clássicos da filosofia política de todos os tempos: "Leviatã, ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil", do inglês Thomas Hobbes (1588-1679), em tradução de Daniel Moreira Miranda.

O título da obra é alusivo ao monstro marinho mencionado na Bíblia como serpente tortuosa e veloz. Publicado em 1651 e posteriormente revisado em 1668, "Leviatã" foi escrito durante a Guerra Civil Inglesa (1642-1651), que opôs os partidários do Parlamento, liderados por Oliver Cromwell (1599-1658), e os do rei Carlos 1o —derrotado e executado.

Hobbes descreve o que ele chama de "estado de mera Natureza" como "estado de Guerra de todos contra todos", e afirma: "a Causa Final, o Objetivo ou o Desígnio dos homens (que, naturalmente, amam a Liberdade e o Domínio sobre os outros) ao introduzirem restrições para si mesmos (com as quais os vemos viver em Estados) é a preocupação com sua própria preservação e em levar, como resultado disso, uma vida mais feliz; isto é, a preocupação em sair do miserável estado de Guerra, o qual é uma consequência necessária (como foi mostrado no Capítulo 13) das Paixões naturais dos homens, sempre que não existir um Poder visível que os mantenha intimidados e os vincule, utilizando o medo da punição para o cumprimento dos Pactos e a observação das Leis Naturais".

Para ele, o Estado pode se organizar como monarquia, democracia ou aristocracia. E, ao comparar esses três sistemas, posiciona-se enfaticamente pelo modelo monárquico.

"Veja bem, em uma Monarquia, o interesse privado é o mesmo que o público. As riquezas, o poder e a honra do Monarca surgem apenas das riquezas, da força e da reputação de seus Súditos. Isso porque nenhum Rei pode ser rico, glorioso ou seguro quando seus Súditos são pobres, desprezíveis ou estão muito fracos, por causa da carestia ou dos desacordos, para conseguirem manter uma guerra contra seus inimigos", argumenta.

"Já em uma Democracia ou Aristocracia, a prosperidade pública não acrescenta tanto à fortuna privada do corrupto ou ambicioso, como, muitas vezes, o fazem um conselho desleal, uma ação traiçoeira ou uma guerra civil."

29 de abr. de 2022

Repercutimos a Edição 29/04/22 do Ex-Blog do César Maia --- CARNAVAL DEU O RECADO SOBRE O PROTAGONISMO NEGRO NO BRASIL! (Cida Bento, conselheira do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, doutora em psicologia pela USP – Folha de SP, 27)

 

CARNAVAL DEU O RECADO SOBRE O PROTAGONISMO NEGRO NO BRASIL!

(Cida Bento, conselheira do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, doutora em psicologia pela USP – Folha de SP, 27) Se em algum momento pudemos ter dúvidas sobre o quanto ecoam nas periferias e favelas as vozes de intelectuais e ativistas que lutam por um país que reconheça a força da cultura que emana de sua população, os Carnavais dos últimos anos não deixam dúvidas.

A maioria das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro (oito em 12 escolas) e de São Paulo (sete em 14 escolas) trouxe para a avenida enredos que homenagearam personalidades negras, a cultura afro-brasileira e o protagonismo negro na história do país. E fizeram duras críticas ao racismo e ao assassinato da juventude negra.

O recado foi dado!

Esse processo não começa agora e não ocorre por acaso, mas atinge um pico neste período de nossa história, no qual, não por coincidência, alcançamos um nível de violência racial que é o maior dos últimos 30 anos, em cidades como o Rio de Janeiro, segundo demonstra o Mapa da Violência no Brasil.

Personalidades negras queridas e respeitadas pela população brasileira que haviam sido atacadas nos últimos seis anos por órgãos do governo federal numa tentativa de desonrá-las foram exaltadas, homenageadas nas ruas, por milhares de sambistas. Num dos maiores e mais lindos espetáculos a que temos o privilégio de assistir.

E é assim que constatamos que o que acontece de negativo no Legislativo, no Executivo e no Judiciário, muitas vezes na calada da noite, vem sendo acompanhado por olhares atentos e críticos das periferias e favelas.

As escolas de samba são um território complexo onde muitas vezes não temos na liderança pessoas negras, como, aliás, acontece na maioria das organizações brasileiras e onde a luta pelo poder pode repetir a mesma lógica violenta e excludente que observamos em outras instituições brasileiras.

Mas é também um espaço de aquilombamento, de compartilhamento das raízes culturais pela música, pela dança e pelo teatro. E, nesse sentido, é território fértil para a ampliação da crítica social e da democracia, já que múltiplas vozes, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, pessoas negras e indígenas buscam se manifestar.

E um diferencial marcante nesse contexto de Carnaval vem sendo a maneira crescente com que aparece a valorização das religiões afro-brasileiras.

Num país que é laico, segundo a Constituição de 1988, não poderiam ocorrer relações de dependência com nenhum culto e, principalmente, não poderia haver perseguição ou impedimento do funcionamento de cultos de qualquer natureza.

Mas isso vem acontecendo!

A despeito de nossa Constituição ter consagrado o princípio de liberdade de crença, de culto, de liturgias e de organização religiosa, crescem as denúncias de violações de direitos no campo do credo religioso contra judeus, muçulmanos, dentre outros grupos. E as religiões afro-brasileiras vêm sendo duramente atingidas por diferentes formas de violência, como agressões físicas e verbais a religiosos, ameaças, pichações em templos e lugares públicos e propagandas de ódio veiculadas na internet.

São frequentes, ainda, as denúncias de invasão dos templos, praticadas por maus policiais, sem mandado judicial e a qualquer hora do dia ou da noite.

Assim é que foi muito animador ver as escolas de samba, em 2022, trazerem para a rua os orixás: narrarem a história de Oxóssi, cantarem Exu ou Oxalá, divindades das religiões de matriz africana.

Isso nos lembrou que a laicidade do estado brasileiro não é um elemento de restrição do pertencimento e expressão religiosos, pelo contrário, é uma riqueza que marca nossa sociedade tão diversa.

​Assim, que possamos contribuir para que essa crítica de parcela expressiva da nossa população à violência social, em particular a religiosa que se manifestou na avenida, se manifeste também nas eleições. Com a certeza de que podemos e vamos fazer a diferença.

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