O Assassino
da História – por Mauro Nadvorny
Não está
sendo fácil para os brasileiros que vivem no exterior. Ter que tentar explicar
as besteiras que são ditas pelo presidente do país está sendo cada vez mais
difícil.
Eu conheço
muita gente que defende o fato da história ter sido escrita pelos vencedores
para fabricar novas narrativas, até aí algo compreensível. O problema é quando
a total falta de conhecimento histórico leva uma criatura a dizer que o Partido
Nazista era de esquerda porque tinha “socialista” no nome (Partido Nacional
Socialista). Não qualquer criatura, o Presidente do Brasil ao sair de uma
visita ao Museu do Holocausto.
O fato de
não saber falar outros idiomas é perdoável. A falta de informação sobre o lugar
que está visitando, não ter ideia do motivo da construção do monumento onde
está depositando uma coroa de flores e não saber a razão deste local ser
incluído nas visitas de dignitários estrangeiros, isso é imperdoável.
A situação
foi tão vexatória que assim que sua declaração chegou aos canais de mídia, a
imprensa israelense que estava fazendo uma cobertura morna, passou a ataca-lo
sem piedade. Vídeos de suas declarações homofóbicas e misóginas surgiram nos
noticiários das TVs e o próprio Museu do Holocausto foi questionado, acabando
por emitir uma nota onde afirmou que a declaração do presidente brasileiro era
equivocada.
Existem
muitos assassinos da memória, os conhecidos negadores do Holocausto. Pessoas
que afirmam que os nazistas não mataram seis milhões de judeus e que as mortes
de alguns milhares nos campos de concentração se deveram a doenças e outros
fatores naturais.
Estamos
agora diante de um novo conceito, o de assassinos da história. Pessoas que
tentam reescrever fatos históricos baseados na linguística, na maneira como de
denominavam os movimentos envolvidos. Se um deles tem a palavra Democrata no
nome, ele é democrata, se tem a palavra Nacional, ele é nacionalista, e assim
por diante. Em sendo assim, Socialista no nome, só pode ser de esquerda.
Se para uma
pessoa comum isto é um absurdo, imaginem para nós judeus termos de escutar uma
barbaridade destas. Ele, o presidente do país, dando uma declaração
estapafúrdia em Israel, na porta do Museu do Holocausto, que afirma em seu site
ao explicar a frustração do povo alemão após a Primeira Guerra que "junto a
intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do Comunismo,
criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha,
gerando entidades como o Partido Nazista".
A visita de
Bolsonaro não será lembrada aqui pelo fato de não cumprir sua promessa de mover
a embaixada do Brasil para Jerusalém. Tampouco pela abertura do escritório
comercial em Jerusalém. Muito menos pela visita não protocolar ao Muro das
Lamentações e assinar o livro de visitante a um grupo extremista que deseja
derrubar as Mesquitas do Monte do Templo para lá construir o Terceiro Templo de
Israel. Nem falar dos acordos de intenção que não servem para nada. O que ficou
marcado para os israelenses foi “o que aquele presidente idiota do Brasil disse
antes de ir embora”.
Interessante
mencionar que as entidades judaicas brasileiras representativas da comunidade
ficaram em silencio. Somente os grupos judaicos na resistência emitiram nota de
repúdio e escreveram artigos contra tamanho absurdo.
O silêncio
das entidades oficiais, Federações e Confederação ao oficialmente se omitirem,
ou ressaltando o aspecto positivo de que ele ao menos visitou Israel, mostra
bem o lado trágico da nossa história. Não foi muito diferente na Alemanha antes
da ascensão de Hitler. O fenômeno do fascismo judaico sempre foi uma mancha
negra no nosso passado que volta para nos assombrar.
Felizmente
existe o outro lado. Vários grupos de resistência judaica democrática existem
neste momento fazendo um trabalho fantástico de oposição a este governo
fascista. Cada um contribui à sua maneira. Todos somam diariamente ações de
vigília e de esclarecimento sobre os acontecimentos. Eles são o verdadeiro
espírito judaico humanista. Assim foi também na Alemanha Nazista.
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