TRICONTINENTAL - 21º CARTA SEMANAL/2018 - Análise de Conjuntura 20 de julho 2018
Queridos amigos e amigas,
Saudações do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.
O presidente dos EUA, Donald Trump, se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin. Por duas vezes, em dois dias, Trump fez declarações à imprensa de que ele mais tarde mudaria. Quando perguntaram a Trump se a Rússia havia se intrometido nas eleições dos EUA, ele respondeu: "Eu não vejo nenhuma razão pela qual ela faria isso", a Rússia. Mais tarde, ele modificou sua declaração, dizendo que quando ele disse "faria", ele quis dizer "não faria". Isso e a outra correção igualmente estranha sugerem uma nova maneira de manter o ciclo de notícias focado nas artimanhas de Trump e no bizarro foco da interferência russa na eleição presidencial dos EUA. Nenhuma menção é feita aqui que os Estados Unidos rotineiramente interferem no processo político de países ao redor do mundo (de golpes diretos contra governos a infusões de dinheiro para aliados dos EUA).Nada é dito sobre os jogos geopolíticos da Eurásia: a expansão da OTAN para a Europa Oriental e Ásia Central, o embargo dos EUA ao Irã e o crescimento da Iniciativa da nova Roda da Seda da China para a Turquia, bem como a Cordilheira da Pérolas do Mar da China Meridional ao Porto do Sudão. Você quer ler sobre esses desenvolvimentos na Ásia ou sobre os desafios na América do Sul? Onde você encontra?
As grandes corporações dos meios de comunicação, pertencentes a empresas monopolistas e em contato direto com os poderosos, replicam cegamente a ideologia dos dominantes. Ler uma reportagem sobre a Síria em um jornal ocidental, por exemplo, é um exercício de descrença. As fontes são repetitivas - disse um oficial dos EUA, disse um oficial militar dos EUA, segundo uma autoridade militar dos EUA em um país do Oriente Médio. É como se o repórter se tornasse meramente um estenógrafo dos poderosos. No Frontline, tenho uma resenha das memórias de Seymour Hersh sobre ser repórter nos últimos cinquenta anos nos Estados Unidos. Em seu livro, Hersh diz sobre o relato da guerra dos EUA no Vietnã: "Se você apoiasse a guerra, você era objetivo; se você fosse contra, você era um esquerdista e não confiável".
Hersh estava falando sobre os dias da guerra do Vietnã. As coisas estão mais obscuras agora. Em um novo livro, Democracia nas Cadeiras, a historiadora Nancy Maclean conta a história de um projeto diabólico de alguns plutocratas para obter uma vitória total na batalha de idéias. Nancy conta a P. Ambedkar, do escritório do Instituto Tricontinental em Nova Deli, sobre o plano da direita para controlar o panorama intelectual - não apenas a mídia, mas também as outras indústrias produtoras de cultura (inclusive a academia). Um dos recursos que não deve ser ignorado é o rastro global deste projeto. Nancy nos aponta para o Grupo Atlas, que leva as ideias de "livre empresa" e "liberdade individual" - características clássicas do libertarianismo de direita - em países do mundo todo. Vale a pena visitar o site do Grupo Atlas e estudar a lista de grupos que estão colocando a democracia nas cadeias. Para ter um breve exemplo do que este projeto tem feito na América Latina, veja a história de Lee Fang no The Intercept.
Então, isso levanta a questão novamente: onde você vai para obter as notícias e análises? Há alguns anos, os movimentos sociais e políticos da América Latina desenvolveram um meio de comunicação chamado The Dawn. Hoje, The Dawn renasce como o People's Dispatch. Com sede em Nova Delhi, com correspondentes em todo o mundo - da América do Sul ao Norte da África, da Europa Oriental ao Sudeste da Ásia - o People's Dispatch será tanto um canal de notícias quanto um espaço de análises mais completas dos movimentos e das notícias. Foi lançado hoje, no aniversário de Frantz Fanon - que desempenhou um papel importante como jornalista da Revolução argelina. No site, tenho um breve ensaio sobre a voz do povo - sobre a necessidade de tal plataforma de mídia. Visite o People’s Dispatch para ter uma ideia completa do que está disponível lá.
A foto acima é de João Silva, o notável fotojornalista sul-africano nascido em Portugal. |
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