Recomendo fortemente a leitura dessa matéria top de OperaMundi - "A maçã podre: os ex-espiões israelenses dentro da Apple"

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"A maçã podre: os ex-espiões israelenses dentro da Apple" 

Como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo e o genocídio em Gaza se conectam - Por Alan Macleod | Mintpress News


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A maçã podre: os ex-espiões israelenses dentro da Apple

Como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo e o genocídio em Gaza se conectam. Por Alan Macleod | Mintpress News

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A Apple ganhou as manchetes recentemente por divulgar seu compromisso com a privacidade e os direitos humanos, lançando ferramentas para limitar a vigilância e spywares. Mas, por trás da mensagem corporativa, há uma realidade muito mais sombria.

A empresa contratou discretamente dezenas de veteranos da Unidade 8200, a obscura unidade de inteligência militar de Israel conhecida por suas práticas de extorsão, vigilância em massa e assassinatos seletivos.

Muitas dessas contratações ocorreram enquanto Israel intensificava sua guerra contra Gaza e o CEO Tim Cook expressava publicamente seu apoio a Israel, ao mesmo tempo em que punia funcionários por declarações pró-palestinas. Os laços cada vez mais profundos da Apple com o serviço de inteligência mais controverso de Israel levantam questões incômodas, não apenas sobre as lealdades políticas da empresa, mas também sobre como ela lida com vastos acervos de dados pessoais dos seus usuários.

Uma investigação da MintPress News identificou dezenas de agentes da Unidade 8200 que agora trabalham na Apple. A onda de contratações da empresa coincide com a crescente atenção sobre seus laços com o governo israelense, incluindo sua política de fazer doações a grupos como Friends of the IDF (Amigos das IDF) e Jewish National Fund (Fundo Nacional Judeu), ambos com responsabilidade pelo deslocamento do povo palestino. O intenso viés pró-Israel na corporação levou muitos ex-funcionários e funcionários atuais a se manifestarem.

Esta investigação faz parte de uma série que examina a estreita colaboração entre a Unidade 8200 e empresas ocidentais de tecnologia e mídia. Investigações anteriores examinaram as ligações entre a Unidade 8200 e gigantes das mídias sociais como TikTok, Facebook e Google, jogando luz sobre como ex-espiões da Unidade 8200 são agora responsáveis por escrever grande parte das notícias nos EUA sobre Israel/Palestina, ocupando cargos importantes em veículos como CNN e Axios.

Algumas (dezenas) de maçãs podres

A reputação internacional de Israel sofreu um duro golpe em meio a vários escândalos de espionagem e ataques contínuos contra seus vizinhos. Durante esse mesmo período, a Apple intensificou o recrutamento de ex-funcionários da inteligência israelense.

A gigante do Vale do Silício contratou dezenas de ex-agentes da controversa unidade de inteligência israelense, a Unidade 8200, levantando questionamentos sobre a orientação política da corporação.

Nir Shkedi está entre os exemplos mais proeminentes. De 2008 a 2015, ele atuou como comandante e chefe de aprendizagem da Unidade 8200, liderando uma equipe de aproximadamente 120 agentes que desenvolveram novas ferramentas de inteligência artificial para realizar análises rápidas de dados.

A Unidade 8200 está na vanguarda dessa tecnologia e é conhecida por ter usado IA para gerar automaticamente listas de morte de dezenas de milhares de habitantes de Gaza, incluindo crianças. Essas ferramentas ajudaram as Forças de Defesa de Israel (IDF) a contornar o que chamavam de “bottlenecks” (gargalos) na identificação de alvos humanos e a atacar um grande número de palestinos.

Shkedi é engenheiro de design físico no campus da Apple na área da baía de São Francisco desde 2022.

Noa Goor é outra figura sênior da Unidade 8200 que se tornou funcionária da Apple. De 2015 a 2020, Goor ascendeu de cargo, se tornando gerente de projetos e chefe da equipe de desenvolvimento de segurança cibernética e big data na Unidade 8200, onde, em suas próprias palavras, “inventou soluções tecnológicas criativas para alvos de inteligência de alta prioridade” e “gerenciou dois projetos cibernéticos estrategicamente importantes” para as IDF.

Um dos projetos cibernéticos mais importantes que a Unidade 8200 lançou nos últimos tempos foi o ataque a pagers no Líbano em setembro, um ato que feriu milhares de civis e foi amplamente condenado como um ato de terrorismo internacional, inclusive pelo ex-diretor da CIA Leon Panetta. Embora Goor não tenha se envolvido pessoalmente nessa operação, a Unidade 8200 liderou ações igualmente nefastas durante décadas.

Em 2022, Goor foi contratada pela Apple como engenheira de design de sistemas em chip.

Eli Yazovitsky, por sua vez, foi recrutado diretamente da Unidade 8200. Em 2015, ele deixou uma carreira de nove anos como gerente na unidade militar para ingressar na Apple, onde ascendeu a gerente de engenharia. Desde então, ele passou para a gigante da tecnologia Qualcomm.

A Unidade 8200 é a unidade de inteligência militar mais de elite – e mais controversa – de Israel. Ela serve como a espinha dorsal tanto do florescente setor tecnológico israelense quanto de seu aparato de vigilância repressivo. A unidade desenvolveu tecnologias de ponta, como reconhecimento facial e software de conversão de voz em texto, para vigiar, reprimir e perseguir palestinos.

A enorme quantidade de dados coletados sobre a população palestina, incluindo histórico médico, vida sexual e histórico de buscas na internet, tem sido usada para coerção e extorsão. Se um indivíduo precisasse atravessar postos de controle para receber tratamento médico crucial, sua permissão poderia ser suspensa até que ele se submetesse. Informações sobre casos extraconjugais ou orientação sexual, especialmente homossexualidade, são utilizadas como material para chantagem. Um ex-agente da Unidade 8200 lembrou que, durante seu treinamento, foi instruído a memorizar diferentes palavras em árabe para “gay”, a fim de poder identificá-las em conversas interceptadas.

Internacionalmente, a Unidade 8200 é mais conhecida por seus “ex-agentes” que criaram o notório software Pegasus, usado por governos repressivos em todo o mundo para espionar dezenas de milhares de figuras proeminentes, incluindo membros da realeza, chefes de Estado, ativistas e jornalistas.

Entre eles estava o colunista do Washington Post Jamal Khashoggi, assassinado por agentes sauditas na Turquia em 2018.

Embora o serviço militar seja obrigatório para judeus israelenses, poucos acabam na Unidade 8200 por acaso. Descrita como a “Harvard de Israel”, os pais gastam fortunas em aulas extracurriculares com foco em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) para seus filhos, na esperança de que eles sejam selecionados para ingressar na unidade mais seletiva e de elite das Forças de Defesa de Israel. Os escolhidos são recompensados com carreiras lucrativas na indústria de tecnologia após a conclusão do serviço.

Dado o histórico documentado de violência, espionagem e vigilância da Unidade 8200, tanto no âmbito nacional quanto internacional, vale a pena questionar se as gigantes da tecnologia deveriam contratar seus antigos membros em tão grande número.

Shkedi, Goor e Yazovitsky são os exemplos mais notórios, mas não são os únicos. Um olhar mais atento revela que dezenas de outros veteranos da Unidade 8200 também conseguiram cargos importantes na Apple.

Engenharia e Design de Hardware:

Natanel Nissan, ex-chefe de análise de dados da Unidade 8200, ingressou no escritório da Apple em Tel Aviv em 2022. Ofek Har-Even, oficial e gerente de longa data da unidade, é engenheiro de verificação de design na Apple desde 2022. Gal Sharon, ex-operador de sistemas de inteligência e analista de dados, também trabalha como engenheiro de design físico desde o mesmo ano.

Mayan Hochler e Shai Buzgalo, ambos ex-analistas e instrutores da Unidade 8200, ocupam cargos em design físico e engenharia de validação, respectivamente.

Software e segurança cibernética:

Ofer Tlusty, que serviu por quase seis anos na Unidade 8200 como analista de segurança e inteligência, trabalha como engenheiro de software na Apple desde 2021. Ofek Rafaeli, que serviu entre 2012 e 2016 e ascendeu a gerente de projetos durante o ataque de Israel a Gaza em 2016, tornou-se engenheiro de software na Apple em 2023.

Guy Levy, um ex-analista de inteligência, agora também trabalha como engenheiro de software.

IA, aprendizado de máquina e validação:

Avital Kleiman, um veterano de seis anos da Unidade 8200, agora é engenheiro de algoritmos de aprendizado de máquina na Apple. Niv Lev Ari, atualmente engenheiro de validação, observa em seu perfil no LinkedIn que recebeu uma carta de recomendação do comandante da Unidade 8200, Aviv Kochavi, por seu trabalho na unidade.

Outras funções técnicas:

Shahar Moshe, que trabalhou como especialista em inteligência na Unidade 8200 de 2012 a 2015, agora é engenheiro de verificação de projetos. Gil Avniel, que passou mais de cinco anos na unidade, atualmente atua como engenheiro de rede.

Uma maçã podre em seu centro

O número crescente de ex-agentes de inteligência israelenses trabalhando na Apple não parece preocupar a alta administração da empresa. O CEO Tim Cook é conhecido por suas opiniões fortemente pró-Israel e liderou a colaboração da gigante do Vale do Silício com o Estado israelense.

A Apple adquiriu várias empresas de tecnologia israelenses e agora opera três centros no país, empregando cerca de 2.000 pessoas. Em 2014, Cook convidou o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu para a sede da empresa em Cupertino, Califórnia, onde, diante das câmeras, os dois se abraçaram abertamente. No ano seguinte, Cook aceitou um convite do presidente Reuven Rivlin para visitar Israel. “É um grande privilégio receber você e sua equipe aqui”, disse Rivlin. “Mesmo para mim, que prefiro escrever com caneta e papel, fica claro o grande milagre que vocês criaram quando olho para minha equipe e meus netos.”

Elogios efusivos ao CEO da Apple também vieram na forma de honrarias concedidas por organizações pró-Israel. Em 2018, a Liga Antidifamação entregou a Cook seu primeiro Prêmio Coragem Contra o Ódio na Cúpula Never Is Now sobre antissemitismo e ódio, com a organização o descrevendo como um “líder visionário na comunidade empresarial”.

Após os ataques de 7 de outubro de 2023, Cook enviou um e-mail para toda a empresa expressando sua solidariedade com Israel. “Como muitos de vocês, estou devastado com os ataques horríveis em Israel e as notícias trágicas que chegam da região”, escreveu ele. “Meu coração está com as vítimas, aqueles que perderam entes queridos e todas as pessoas inocentes que estão sofrendo como resultado dessa violência.”

No entanto, de acordo com a Apples4Ceasefire – um grupo de ex-funcionários e funcionários da Apple que se opõem às ações israelenses em Gaza – ele ainda não se pronunciou publicamente sobre a devastação em massa causada pela resposta israelense após o 7 de outubro.

De fato, a empresa do Vale do Silício tem uma política de igualar as doações dos funcionários a grupos como o Friends of the IDF (Amigos das Forças de Defesa de Israel), que arrecada dinheiro para comprar equipamentos para os soldados das FDI, e o Jewish National Fund (Fundo Nacional Judaico), uma organização que participa do roubo e da destruição de terras palestinas.

Sob a liderança de Cook, funcionários da Apple foram disciplinados ou até mesmo demitidos por usarem broches, pulseiras ou keffiyehs em apoio ao povo palestino. No entanto, grupos como o Apples4Ceasefire continuam a se manifestar sobre o que descrevem como cumplicidade da Apple no genocídio.

A conquista tecnológica da Unidade 8200

Para ser justo, a Apple está longe de ser a única empresa de tecnologia ou mídia a contratar um grande número de ex-agentes da Unidade 8200. Uma reportagem da MintPress de 2022 revelou que centenas de veteranos da inteligência israelense trabalham no Google, Facebook, Microsoft e Amazon.

Talvez o mais notável deles seja Emi Palmor, um ex-funcionário do ministério da Justiça israelense que faz parte do Conselho de Supervisão do Facebook, composto por 21 pessoas. Descrito por Mark Zuckerberg como a “suprema corte” de sua plataforma, o conselho decide, em última instância, quais conteúdos são permitidos ou removidos da maior rede social do mundo. O Facebook tem trabalhado em estreita colaboração com o governo israelense para censurar ou remover conteúdos e contas palestinas.

Até mesmo o TikTok, muitas vezes visto como uma plataforma mais aberta, tem contratado ex-espiões israelenses para ajudar a gerenciar suas operações, de acordo com uma investigação realizada em novembro pela MintPress. Reut Medalion, por exemplo, serviu como comandante de inteligência da Unidade 8200 e liderou sua equipe de operações de segurança cibernética.

Em dezembro de 2023, durante o auge do ataque de Israel a Gaza, Medalion mudou-se para Nova York, para começar a trabalhar como gerente global de incidentes da divisão de confiança e segurança do TikTok. Considerando os eventos que estavam ocorrendo no mundo na época, vale a pena questionar que tipo de “incidentes globais” ela foi contratada para gerenciar.

Depois que a MintPress expôs o passado de Medalion para um público mundial, ela excluiu toda a sua presença digital da internet.

Ex-agentes da inteligência israelense também encontraram seu caminho para as redações americanas, moldando a cobertura jornalística do Oriente Médio. Uma recente investigação da MintPress revelou uma rede de ex-agentes da Unidade 8200 trabalhando em algumas das redações mais influentes dos Estados Unidos.

Entre eles está o correspondente da Axios Barak Ravid, cuja cobertura do Oriente Médio lhe rendeu o prestigioso Prêmio de Correspondentes da Imprensa da Casa Branca. Até pelo menos 2023, Ravid foi membro da Unidade 8200. A CNN também contratou pelo menos dois ex-agentes para produzir sua cobertura jornalística, dentre eles Tal Heinrich, que agora atua como porta-voz oficial do primeiro-ministro Netanyahu.

Dado esse padrão, a parcialidade do Vale do Silício em relação a Israel não deve ser surpresa. De gigantes da tecnologia como Google e Amazon a potências das mídias sociais como TikTok e Facebook, o campo está repleto de ex-espiões israelenses. A Apple não é exceção, tendo contratado dezenas, senão mais, de agentes da Unidade 8200 para administrar suas plataformas e moldar a empresa.

Esta investigação não afirma que o Estado israelense está deliberadamente se infiltrando no Vale do Silício. No entanto, o que ela sugere, sem dúvida, é que a perspectiva e os preconceitos gerais dessas entidades são fortemente pró-Israel. O que diz sobre a cultura do Vale do Silício que indivíduos com laços bem documentados com uma agência de espionagem estrangeira controversa sejam considerados contratações ideais?

É impensável que ex-agentes de inteligência do Hezbollah, do ministério de Inteligência do Irã ou do FSB ou GRU da Rússia sejam contratados em massa e recebam nossos dados mais confidenciais. No entanto, quando se trata de Israel (ou das agências de vigilância dos EUA), a resposta é diferente. Muitos desses funcionários nem mesmo são “ex-agentes”: são recrutados diretamente da Unidade 8200 enquanto ainda estão na ativa, apesar da lei israelense proibir explicitamente os membros do grupo de se identificarem ou divulgarem sua membresia.

Assim, parece que aqueles que, como os membros da Apples4Ceasefire, lutam para acabar com o duplo padrão da Apple, estão travando uma batalha difícil.


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