Dirigismo: a volta dos que foram – e recuaram da beira do abismo
Já se tornou lugar comum afirmar que a pandemia de Covid-19 escancarou as deficiências da globalização, com suas concentrações de certos setores produtivos em países com custos de produção menores (em especial, mão-de-obra), longas e complexas cadeias logísticas baseadas no conceito “just-in-time” e, acima de tudo, o aparente triunfo do neoliberalismo como doutrina orientadora da formulação de políticas econômicas. De fato, tem sido pedagógico observar a multiplicidade de manifestações de retomada do protagonismo econômico pelos governos, principalmente, nos países avançados, onde conceitos “antiquados”, como política industrial, protecionismo, produção nacional e até mesmo a detestada dirigismo, voltaram a frequentar os debates políticos.
O relatório “Estado da dependência de commodities 2021” (State of Commodity Dependence 2021), publicado recentemente pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), mostra que na última década aumentou o número de países dependentes de matérias-primas. De 93 países, em 2008-09, o número subiu para 101, em 2018-19. Cerca de dois terços dos países em desenvolvimento são dependentes da exportação de matérias-primas.
A manchete principal do jornal Valor Econômico de 13 de outubro sintetiza o drama do desastroso processo de desindustrialização acelerada que afeta o Brasil: “Commodities respondem por 70% das exportações.” A reportagem apresenta os dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre). Nos nove primeiros meses do ano, os produtos primários representaram 69,7% das exportações nacionais, contra 67,5% em 2020 e 60,6% em 2019 – ou seja, uma alta de nove pontos percentuais em dois anos, ainda que motivada por uma alta nos preços. Os números são os mais altos da série iniciada pelo FGV-Ibre em 1998.
Recrudesce campanha por “soberania limitada” na Amazônia
“A Amazônia é do Brasil, em termos. Até a lei brasileira condena uma mãe ou um pai que trate mal o seu filho a perder a guarda sobre ele”. – João Paulo Capobianco, 4 de junho de 2008. A frase do ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e ex-dirigente do Instituto Socioambiental (ISA), João Paulo Capobianco, proferida na cerimônia de transmissão do cargo ao substituto de sua ex-chefe Marina Silva, Carlos Minc, não representa um pensamento isolado. De fato, ele é compartilhado por um grande número de cidadãos brasileiros, principalmente, entre os engajados nas entidades integrantes do aparato ambientalista-indigenista internacional, que não se melindram em difundir a falaciosa ideia de que o Brasil não saberia cuidar adequadamente da Amazônia e, por conseguinte, deveria satisfações ao mundo, principalmente, às potências avançadas da América do Norte e Europa, e à opinião pública internacional, quanto às suas políticas para a região, em um virtual arranjo de “soberania limitada” sobre ela.
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