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Mais que guerra comercial, a guerra é tecnológica - Carta Maior

Mais que guerra comercial, a guerra é tecnológica

"Teremos que superar importantes riscos e desafios", clamou o líder chinês, em alusão à nova escalada do conflito com os Estados Unidos.




Créditos da foto: "A situação internacional está cada vez mais complicada", disse Xi Jinping em Jiangxi (AFP)
 
O presidente da China, Xi Jinping, pediu ontem ao seu povo que se prepare, assegurando que tempos difíceis virão pela frente. “Teremos que superar importantes riscos e desafios”, clamou o mandatário, em alusão à nova escalada do conflito entre os Estados Unidos e o seu país, após Washington proibir que as companhias estadunidenses façam negócios com as empresas suspeitas de espionagem industrial – acusação que é atribuída a algumas empresas chinesas. Uma vez que o presidente Donald Trump tomou essa decisão por decreto, a Google cortou relações com o gigante chinês Huawei, e vários países interromperam a comercialização e pré-venda desses equipamentos.

“Nosso país ainda está em um período de importantes oportunidades estratégicas para o desenvolvimento, mas a situação internacional é cada vez mais complicada”, afirmou o chefe de Estado chinês, em uma visita à província de Jiangxi, no sul do país. Durante a jornada, Xi alertou que a nação deve ser consciente do complexo cenário, com os vários fatores desfavoráveis que tem por diante, tanto a nível interno quanto externo.

A Huawei, por sua parte, também criticou os Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que lançou, na terça-feira (21/5), uma nova linha de telefones inteligentes. Um representante da empresa denunciou o acosso sofrido por parte de Washington: “a Huawei respeitou todas as leis e regulações aplicáveis. Agora, a empresa se tornou vítima do acosso da administração dos Estados Unidos”, declarou Abraham Liu, representante da companhia perante as instituições da União Europeia (UE), durante um ato celebrado em Bruxelas.

Para Liu, não se trata somente de um ataque contra a Huawei. “Este é um ataque contra a ordem liberal baseado em normas. Isso é muito perigoso. O ataque agora é contra a Huawei, mas amanhã pode ser contra qualquer outra empresa internacional. Podemos fechar os olhos diante de semelhante comportamento?”, perguntou o representante da tecnológica. Também contou que as redes 5G da Huawei foram desenvolvidas junto com sócios europeus e na medida das necessidades do velho continente. “A Huawei tem operado na Europa durante quase vinte anos. Atualmente, temos 12,2 mil empregados no continente, 70% contratados localmente”, afirmou Liu.

Nesta quarta-feira (22/5), também se tornou público o fato de que a Huawei não é a única empresa chinesa afetada pela decisão estadunidense. O diário The New York Times informou que a Casa Branca avalia proibir que a empresa china de câmaras de vigilância, Hikvision, compre tecnologia fabricada nos Estados Unidos. O governo asiático questionou imediatamente a “difamação” da administração norte-americana contra suas empresas. Por sua parte, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Lu Kang, insistiu em que Washington deve parar com os ataques e proporcionar um parâmetro justo e não discriminatório para as empresas do seu país.

Assim como aconteceu na semana passada com empresa tecnológica Huawei, a fabricante de câmeras seria incluída na “lista negra” do Departamento de Comércio. Isso significaria que os provedores da Hikvision necessitariam uma licença especial, expedida pelo governo, para comercializar com a empresa chinesa. A Hikvision é uma das maiores fabricantes de equipamentos de vídeo de vigilância do mundo, e a ambição chinesa em se tornar o principal exportador global de sistemas de vigilância no mundo é um ponto central nessa disputa, segundo destacou o The New York Times.

Após a medida anunciada por Trump, várias empresas tecnológicas importantes indicaram que deixarão de vender componentes e software à Huawei. A primeira em dar este passo foi a Google, e logo algumas companhas japonesas e britânicas.

Duas das três mais importantes firmas de telefonia celular do Japão, Softbank e KDDI, anunciaram ontem que adiariam o lançamento de um novo modelo da empresa chinesa, o Huawei P30 Lite, que tem uma tela 6,15 polegadas e conta com três câmaras. Estava anunciado que o aparelho contava com o sistema operativo Android 9.0, da Google. Além dessas duas empresas japonesas, o provedor telefônico NTT Docomo informou que interrompeu o pedido do novo modelo da Huawei.

A multinacional de desenhos de chips ARM, com sede no Reino Unido, também deu instruções aos seus empregados para que se suspendam os negócios com a tecnológica chinesa. Segundo afirmou à cadeia inglesa BBC, a companhia de chips afirmou que seus desenhos contam com tecnologia de origem estadunidense, de modo que consideraram obrigatório se adequar ao decreto de Trump.

A verdadeira briga nesta disputa entre Estados Unidos e China em matéria de tecnologia é a decisão de Washington de impedir que as empresas chinesas, como a Huawei, controlem as redes 5G. Uma tecnologia que permite navegar pela Internet com muito mais velocidade, e que poderia facilitar o desenvolvimento de veículos autônomos e técnicas para fazer cirurgias por controle remoto.

Nesta linha, o governo estadunidense chegou até mesmo a pressionar a União Europeia para que imponha restrições à Huawei, que se encontra na liderança do desenvolvimento da tecnologia 5G. Os Estados Unidos também teme que a China utilize as redes 5G para espionagem. Desde o início do conflito, o país asiático tem repudiado categoricamente as acusações.

*Publicado originalmente em pagina12.com.ar | Tradução de Victor Farinelli



Publicado originalmente em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Poder-e-ContraPoder/Mais-que-guerra-comercial-a-guerra-e-tecnologica/55/44171

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