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EXPERIÊNCIA MILITANTE E O EXCELENTE MINISTÉRIO DE DILMA

ELIAS KHALIL JABBOUR - Membro do Comitê Central do PC do B




Tenho 24 anos de militância política na corrente marxista-leninista, patriótica, antiimperialista e desenvolvimentista cuja síntese é o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Não milito numa seita religiosa de pessoas de classe média com ideias delirantes, para quem jogar bombinhas na polícia é um ato revolucionário. E também não espero uma "revolução mundial" partindo dos EUA. Meu internacionalismo é produto, e consequência, de um profundo amor e orgulho pelo meu país e sua história. Pelo estudo de sua história, de seus personagens e heróis desde Zumbi dos Palmares. A complexidade do Brasil impede que sejamos enquadrados em esquemas teóricos rígidos. Somos latinoamericanos, porém de origem portuguesa com transições lentas, graduais, seguras e onde o poder do Estado só é possível com a formação de maiorias heterogêneas. Muito diferente da América Espanhola. Logo, me vejo - sim - como um bolivariano. Sem antes disso, me percebo como um prócer de José Bonifácio e Ignacio Rangel.
Aprendi com Lênin (o maior revolucionário de todos os tempos) e no PCdoB que revolução é coisa muito séria para achar "bonito" o isolamento. A quem interessa o isolamento e discursos ocos de extrema-esquerda? Hoje, componho o Comitê Central desta gloriosa e histórica organização revolucionária e também sou professor, na cadeira de Teoria e Política do Planejamento Econômico, da primeira faculdade de economia do Brasil (FCE-UERJ). Não me enxergo como um acadêmico puro sangue. Prefiro me observar como um protótipo de síntese entre um pensador leninista da estratégia nacional e socializante e do campo das ideias. A mim só interessa o rápido e acelerado desenvolvimento das forças produtivas.
O desenvolvimento transforma o homem e ao se transformar, transforma também a cultura como expressão da mudança de impressão que o ser humano passa a ter de si mesmo. Quem guarda reticências à ideia de nação e desenvolvimento das forças produtivas, a meu ver, está do "outro lado". Pois estas "reticências" vão de encontro a coisas muito profundas e caras às massas trabalhadoras. E não podemos condenar os trabalhadores ao isolamento e morte como classe que pensa, sente e realiza política. Não realizaremos a estratégia socialista sob terra arrasada. Não me vejo como um anticapitalista. Sonho e trabalho com a ideia de superar o capitalismo. Não sou militante trotskista, nem tampouco simpatizante de organizações como a Al Qaeda, ISIS, Jihad Islâmica, Hamas etc. Organizações tais que estão ombro a ombro com a extrema-esquerda na noção que um "mundo novo" só pode florescer com a destruição completa do que está aí.
Minha experiência - toda ela em defensiva estratégica após a derrota estratégica das primeiras experiências socialistas - ensinou-me que na luta-de-classes não se escolhe aliados sob o preço da derrota não de uma força política particular, mas da própria classe trabalhadora em nome de uma moral revolucionária que não leva a canto nenhum, a não ser a uma boa carreira acadêmica sob o apanágio de um "marxismo" antinacional, antidesenvolvimentista, sectário e moralista - portanto, reacionário por ser a própria negação da dialética e do próprio marxismo, principalmente na época do imperialismo. A trágica experiência da Guerra Civil Espanhola e o papel dos moralistas de "esquerda" à vitória de Franco nunca sai da minha memória.
Digo isso pra dizer que achei o ministério de Dilma simplesmente excelente. Ministério de guerra. Um ex-prefeito de São Paulo, dono de uma máquina partidária, que rachou o DEM, tem de estar no ministério. A presidenta da Confederação Nacional da Agricultura (o setor mais dinâmico da economia nacional) não pode estar no colo da oposição. Alguém desta desgraça chamada mercado financeiro, também, deve - em nome de rachar o inimigo principal - compor o ministério. Representante dos industriais deve estar no ministério. Senhores feudais nordestinos, porém esclarecidos e patriotas, devem estar no ministério. E por aí vai.
A vida é muito mais complexa e dura do imaginam os apressados em classificar o governo como "traidor". Aliás, vejo uma imensa dose de oportunismo nesta postura, típico de uma "esquerda" que pouco pensa a nação estrategicamente. Nunca se preocupou com isso, pois pensar a nação é um imenso exercício de GRANDE POLÍTICA de difícil alcance a quem crê que a dialética não é uma lógica de busca de sínteses e sim um exercício de verborragia de antíteses atrás de antíteses. Existe uma tentativa de golpe em andamento no Brasil. Como diz meu presidente Renato Rabelo, "ou entende isso ou não entende nada". Existe uma eleição para presidente da Câmara, cuja derrota poderá inviabilizar completamente o governo. Há quem esquece que a esquerda, num Congresso de 500 e poucos deputados, não elegeu nem 100 deputados.
Existe uma tentativa de criação de condições à desnacionalização completa da Petrobrás. Não somente isso, mas também a total inviabilização de grandes empresas nacionais, sobretudo aquelas que conseguem s eimpor em mercados externos. A presença de Levy no Ministério da Fazenda não redundou - ainda - em intervenção do Banco Central no mercado de dólares para fins de valorização da moeda. Os juros sobem, mas não como como queria os inimigos do governo. As metas fiscais são de três anos, não de um ano como desejava o próprio Levy. Dilma está certa na condução política do processo de clara guerra de movimento; guerra esta que há pelo menos três anos deixou de ser algo de posição, de trincheiras.
Nada disso esconde as contradições deste governo que estão aí a gritar. Mas a correlação de forças é o centro da tática, não se esqueçam disso. Escrevo estas curtas palavras com muita tranquilidade. Sempre fui um crítico acima do tom usual desde 2003 até hoje. Já escrevi muito sobre isso. Uma postura excessivamente governista não serve para nada, muito menos para ajudar este governo que é nosso, não "deles". Por outro, respondendo às inúmeras indagações de amigos sobre meu futuro imediato, segue a resposta: estou tranquilo para escrever essas linhas, pois não estou a pleitear algum cargo no governo, algo que sou impossibilitado pelos próximos três anos em virtude de um estágio probatório na FCE-UERJ. Desse fato tem pleno conhecimento os camaradas de direção nacional de meu Partido, a quem devo satisfações e plena lealdade política.
Da minha dedicação ao ensino e pesquisa não penso em abrir mão, nunca. Muito jovem adolescente acordei para a ciência partindo da filosofia clássica grega e chegando até Göethe e Hegel, daí ao marxismo foi um pulo. Estudei, e continuo a fazê-lo, por mais de oito horas por dia nos últimos 22 anos para isso (docência universitária). Nasci para isso e lutei para alcançar esse sonho docente. Esses fatos me trazem ainda mais tranquilidade para colocar essas poucas palavras de reflexão sobre os rumos do governo: sou crítico, a começar por mim mesmo. Mas tenho clareza mínima da conjuntura e do processo histórico. O momento político atual demanda muta inteligência. Muita sensibilidade e flexibilidade. Ou não seria a sensibilidade um claro atributo da inteligência? Estou com Dilma pela continuidade da revolução democrática iniciada em 2003.
Enfim, são essas minhas palavras dirigidas aos vários camaradas, amigos e companheiros que não tardaram a me indagar sobre os rumos do governo e a composição do Ministério de Dilma. Prometi e fiz. Claro que discordâncias devem ser vistas com tranquilidade, afinal a contradição é o motor do processo e o próprio desequilíbrio deve ser estudado como pressuposto ao desenvolvimento e ao planejamento. São pressupostos à nação que sonhamos desde a Batalha de Guararapes. Estamos até hoje a combater os "holandeses". Ou não?
ELIAS MARCO KHALIL JABBOUR

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