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Argentina abre arquivos secretos de sua Ditadura Militar


Argentina, bandeira

Os argentinos podem consultar a partir desta quinta-feira os arquivos secretos das juntas militares da última ditadura (1976-1986) que foram encontrados em novembro do ano passado em um edifício da Força Aérea.

Após serem submetidos a um processo de análise, restauração e digitalização, a maior parte das 1.500 pastas de documentos achadas no subsolo do Edifício Condor, em Buenos Aires, poderão ser consultadas na Biblioteca Aeronáutica da capital. Durante a apresentação, o ministro da Defesa argentino, Agustín Rossi, destacou o "valor histórico" do achado. "Em geral, o olhar sobre a ditadura era o que construíamos os que sofremos, os oprimidos, por assim dizer, e aqui está o olhar dos que controlavam o poder", ressaltou Rossi.
No arquivo, encontrado por um funcionário de manutenção no último dia 4 de novembro, estão as 280 atas originais das reuniões da cúpula militar durante os anos de ditadura e as listas negras de intelectuais e artistas elaboradas pelo regime. "Além das atas da junta, há muitíssima documentação que tem a ver com o que significou as decisões econômicas que foram tomadas durante esse período", declarou o ministro da Defesa.
Segundo Rossi, os documentos provam que se tratou de um processo cívico-militar, dado "que houve responsabilidade de determinados setores civis", embora não se possa dizer que a cúpula ditatorial estivesse inteiramente "subordinada" ao poder econômico. "Do ponto de vista documental, em matéria econômica, mostra claramente a decisão liderada por quem era o ministro da Economia, Martínez de Oz, de modificar a estrutura jurídica argentina para consolidar o modelo econômico liberal", explicou o ministro.
Alguns dos documentos já foram postos à disposição da Justiça para as causas que averiguam crimes contra a humanidade durante a ditadura. Durante os seis meses que transcorreram desde sua descoberta, o arquivo foi tratado paralelamente por quatro equipes (arquivistas, conservadores, analistas e digitalizadores), que trabalharam em "tempo recorde", segundo disse à Agência Efe a coordenadora dos quatro grupos de trabalho, Cecilia García Novarini.
"O estado dos documentos variava", detalhou Novarini, já que as atas das juntas se encontraram em perfeito estado porque estavam guardadas em duas caixas-fortes, mas as pastas armazenadas em estantes e armários mostravam "sinais de terem sido afetadas pela água".
Dois postos virtuais de consulta permitirão acessar toda a documentação classificada por temas, através de palavras-chave. No prazo de dois meses se prevê que o catálogo com a documentação esteja disponível na Internet, que terá também uma versão em forma de aplicativo para facilitar o acesso através de dispositivos móveis.
Novarini insistiu na grande importância social que estes documentos sejam acessíveis para toda a sociedade, já que são parte da "história da Argentina" e de "toda a América Latina". O ato de abertura ao público faz parte das atividades de reivindicação da memória programadas por ocasião do 38º aniversário do golpe de Estado, ocorrido em 24 de março de 1976.
A Argentina também celebrará na segunda-feira o décimo aniversário da criação do Espaço Memória e Direitos Humanos na ex-sede da Escola Mecânica da Marinha (Esma), o principal centro de detenções clandestinas da ditadura, com uma vigília na qual organismos de direitos humanos repudiarão o golpe e reivindicarão justiça para os desaparecidos.

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