Agronegócio e indústria de armas estão entre os principais doadores das campanhas de Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS).
Por
trás da truculência exibida pelos deputados Moreira e Heinze em suas intervenções em uma audiência
pública no município de Vicente
Dutra, em 2013, há método, ideologia e financiadores.
A
reportagem é publicada por Sul
21, 14-02-2014.
Uma
boa maneira de entender as posições políticas defendidas por nossos
parlamentares e governantes é dar uma olhada em suas prestações de contas
eleitorais, especialmente no item “doações
de campanha”. As relações de afinidade entre doadores e candidatos nem
sempre são diretas e automáticas. É comum grandes empresas doarem para
candidatos de diferentes orientações políticas, mas elas costumam ter lá suas
preferências. Mas, se é verdade que o alinhamento de posições nem sempre é
direto e automático, também é verdade que, raramente, o candidato, eleito para
um parlamento ou governo, baterá de frente contra os interesses de seus
principais financiadores. Essa é, aliás, uma das principais razões que explica o
conservadorismo dos parlamentos brasileiros, em nível municipal, estadual e
federal. As campanhas eleitorais são cada vez mais caras e os grandes
financiadores têm seus candidatos preferidos.
Vejamos
o caso dos deputados federais Luiz
Carlos Heinze (PP) e Alceu
Moreira (PMDB), que viraram notícia esta semana pelas declarações que
fizeram contra indígenas, quilombolas, gays e lésbicas (incluídos por Heinze na categoria de “tudo
que não presta”) e em defesa da formação de milícias privadas armadas
por parte dos agricultores para enfrentar “invasões de indígenas e quilombolas”.
Quando olhamos quem foram os doadores das campanhas dos dois deputados em 2010,
fica mais fácil entender seus posicionamentos políticos. Entre seus principais
doadores estão indústrias e empresas do setor do agronegócio; empreiteiras;
setor financeiro e indústria de armas. Há doadores privados importantes também,
como a senadora Ana Amélia Lemos que doou 50 mil reais para a campanha
de seu correligionário Heinze.
A
prestação de contas da campanha do deputado Heinze em 2010 aponta uma arrecadação superior
a um milhão e meio de reais (R$ 1.557.728,41). Entre as principais doações que
recebeu, destacam-se as seguintes, pela ordem de valor:
SLC
Agrícola S/A – R$
150.000,00
Bunge Fertilizantes – R$ 70.000,00
Ana Amélia Lemos – R$ 50.000,00
Cosan S.A. Ind. e Com. – R$ 50.000,00
JBS S/A (Friboi) – R$ 50.000,00
Seara Alimentos S/A – R$ 50.000,00
Gerdau – R$ 50.000,00
Associação Nacional da Indústria de Armas – R$ 30.000,00
Máquinas Agrícolas Jacto S/A – R$ 30.000,00
Camil Alimentos S/A – R$ 20.000,00
Fibria S/A – R$ 20.000,00
Klabin S/A – R$ 20.000,00
Marasca Cereais – R$ 20.000,00
CMPE Celulose Riograndense – R$ 16.632,66
Yeda Crusius – R$ 9.000,00
Bunge Fertilizantes – R$ 70.000,00
Ana Amélia Lemos – R$ 50.000,00
Cosan S.A. Ind. e Com. – R$ 50.000,00
JBS S/A (Friboi) – R$ 50.000,00
Seara Alimentos S/A – R$ 50.000,00
Gerdau – R$ 50.000,00
Associação Nacional da Indústria de Armas – R$ 30.000,00
Máquinas Agrícolas Jacto S/A – R$ 30.000,00
Camil Alimentos S/A – R$ 20.000,00
Fibria S/A – R$ 20.000,00
Klabin S/A – R$ 20.000,00
Marasca Cereais – R$ 20.000,00
CMPE Celulose Riograndense – R$ 16.632,66
Yeda Crusius – R$ 9.000,00
Já
a campanha do deputado Alceu
Moreira foi mais singela,
gastando apenas R$ 877.428,59. Mas o perfil dos doadores é similar ao da
campanha de Heinze.
Entre os principais doares da campanha de Moreira, aparecem:
Bracol
Holding Ltda. – R$
100.000,00
Gerdau – R$ 60.000,00
CMPC Celulose Brasil – R$ 53.855,31
Construtora Giovanella – R$ 30.000,00
Associação Brasileira de Sementes e Mudas – R$ 20.000,00
Fibria Celulose S/A – R$ 20.000,00
Construtora e Pavimentadora Pavicom – R$ 20.000,00
Associação Nacional da Indústria de Armas – R$ 20.000,00
Gerdau – R$ 60.000,00
CMPC Celulose Brasil – R$ 53.855,31
Construtora Giovanella – R$ 30.000,00
Associação Brasileira de Sementes e Mudas – R$ 20.000,00
Fibria Celulose S/A – R$ 20.000,00
Construtora e Pavimentadora Pavicom – R$ 20.000,00
Associação Nacional da Indústria de Armas – R$ 20.000,00
A
prestação de contas completa dos dois deputados, com a lista completa de
doadores pode ser consultada na página do Tribunal
Superior Eleitoral.
Os
números acima mostram a importância do projeto que está sendo votado no Supremo
Tribunal Federal (STF), determinando o fim das doações de pessoas
jurídicas nas campanhas. Não vai resolver todos os problemas da democracia
brasileira, mas exigiria uma mudança significativa no perfil de financiamento
das campanhas. Os mesmos números ajudam a entender também porque a Reforma
Política, entra ano e sai ano, não avança noCongresso.
O atual modelo de financiamento de campanhas alimenta um modelo de lobby que
favorece amplamente o grande capital. Ajuda a entender, por exemplo, por que a
bancada do agronegócio é imensamente superior à bancada dos trabalhadores rurais
e urbanos, agricultores familiares, quilombolas, gays, lésbicas, indígenas e
outras categorias que, na definição do deputado Heinze, “não
prestam”.
Por
trás da truculência exibida em suas intervenções em uma audiência pública no
município de Vicente
Dutra, em 2013, há método, ideologia e financiadores. Não são
manifestações isoladas de desequilibrados, mas sim a face mais troglodita de uma
visão de mundo que não reconhece a existência de índios, quilombolas, gays e
lésbicas. Ou melhor, até reconhece, desde que eles não venham “meter o pé na
nossa terra”. As prestações de contas das campanhas desenham essa ideologia com
contornos nítidos e muito didáticos.
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