Espionagem do Brasil é pobre’, diz ex-embaixador dos EUA em Brasília. País não possui Serviço de Inteligência à altura de sua ambição global, afirma ex-embaixador dos EUA no Brasil.
Para
Thomas Shannon, embaixador em Brasília até setembro, inteligência brasileira
está abaixo das ambições globais do País
Cláudia
Trevisan / CORRESPONDENTE EM WASHINGTON
O
Brasil tem um serviço de inteligência pobre, que não está à altura de suas
ambições globais, afirmou nesta quinta-feira, 19, Thomas Shannon, ex-embaixador
americano no País. Segundo ele, os EUA podem ser um "parceiro útil"
para os brasileiros no processo de construção desse sistema, que será cada vez
mais necessário na medida em que o país amplie sua presença global e seja sede
de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
"Há
muitas pessoas interessadas no que está ocorrendo dentro do Brasil, que é alvo
de ataques cibernéticos diários", declarou Shannon em palestra sobre a
relação bilateral no Brazil Institute, do Wilson Center, em Washington.
Documentos
revelados pelo ex-técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden
mostraram que os Estados Unidos monitoraram comunicações de cidadãos
brasileiros e da presidente Dilma Rousseff, o que levou ao cancelamento da
viagem que ela faria a Washington em outubro.
Entusiasta
da relação bilateral e um dos maiores especialistas em Brasil na diplomacia
americana, Shannon se disse frustrado com a interrupção do diálogo entre os
dois países provocada pela divulgação dos documentos da NSA. A expectativa de
seu governo é que ele seja retomado no início do próximo ano, depois de a Casa
Branca concluir o trabalho de revisão das atividades de seu serviço de
inteligência.
Os EUA
anunciaram que estão prontos para discutir uma nova data para a visita de
Dilma, mas Shannon acredita que o Brasil precisa de mais tempo para dar uma
resposta. "O Brasil está esperando para ver o que podemos oferecer e como
poderemos avançar."
Segundo
ele, os EUA apreciaram a maneira pela qual o governo brasileiro lidou com a
carta de Snowden endereçada à população do País, na qual ele oferece ajuda nas
investigações sobre a NSA e sugere a necessidade de asilo político.
"Apesar
de criar desafios, as revelações abriram a oportunidade para os dois países
repensarem sua relação de inteligência", ressaltou. "Nossa esperança
é que eles (os brasileiros) reconheçam que têm um parceiro útil em nós, e
precisarão olhar além das preocupações imediatas provocadas por Snowden para
construir essa parceria", afirmou Shannon, em relação à cooperação nessa
área.
A
aprovação de resolução da ONU que estende à internet a proteção da privacidade
prevista na Declaração Internacional dos Direitos Humanos foi apontada por
Shannon como um exemplo de diálogo possível entre os dois países.
Apresentada
por Brasil e Alemanha, a proposta foi modificada para contemplar posições
americanas, o que permitiu sua aprovação por unanimidade. "Nós
reconhecemos a importância da privacidade e de uma internet que é vista como um
bem público global, que precisa ser protegido."
Apesar
de reconhecer a seriedade e o impacto das revelações de Snowden, Shannon
ressaltou que elas não podem dominar a relação bilateral. Sem citar nomes, o
diplomata avaliou que seu peso foi exagerado por razões políticas, "não
pelos próprios brasileiros", mas por pessoas ligadas a Snowden.
Estadão
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