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Uruguaio ligado à ditadura militar, preso em Porto Alegre/RS pode ser extraditado

Uruguaio ligado à ditadura militar pode ser extraditado


Detido no Presídio Central, ex-agente está à disposição da Justiça
Marcus Meneghetti

MARCELO G. RIBEIRO/JC
Krischke lembra que STF havia aceito pedido de extradição de Barreiro
Krischke lembra que STF havia aceito pedido de extradição de Barreiro
Preso em Porto Alegre, nesta terça-feira, o uruguaio Mario Ronald Neira Barreiro - que levantou a hipótese de que o ex-presidente do Brasil João Goulart teria sido assassinado - era procurado por assaltos a bancos, carros-forte e tráfico de armas tanto no Brasil quanto no Uruguai. Os crimes motivaram o país vizinho a entrar com um pedido de extradição na Justiça brasileira, concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2001.

Neira Barreiro ficou conhecido em 2002, depois de afirmar à imprensa uruguaia que teria participado de uma ação da Operação Condor, com a cooperação do Uruguai, Brasil e Estados Unidos, para assassinar o ex-presidente brasileiro, em dezembro de 1976. O uruguaio teria trabalhado como agente do regime militar do Uruguai (1973-1985), implantando escutas nos telefones e residências das pessoas monitoradas pela Operação Condor.

Nesta semana, foi preso nos arredores do Ginásio Tesourinha, em um carro dirigido por outro homem, que usava a tornozeleira de monitoramento dos presos em regime semiaberto. Os dois portavam documentos falsos. Segundo a delegada responsável pelo caso, Andrea Nicotti, o motorista "portava objetos para dar a entender que trabalhava na Polícia Federal (PF)".

"A mim, causa estranheza que ele (Neira Barreiro) esteja solto, aqui no Brasil, andando para lá e para cá. Afinal, o ministro do STF Néri da Silveira decidiu pela extradição dele. O que ele ainda está fazendo no Brasil?", indagou o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Jair Krischke.

No despacho do ministro do STF - que determina a extradição não só de Barreiro, mas também de um comparsa chamado Ricardo Anacleto Ruiz Mendieta - consta a sentença de um juiz de Montevidéu, informando que eles eram procurados no Uruguai "porque haveriam incorrido na participação de rapina cometida na financeira OCA" e na "rapina ao Sanatório de Casa de Galicia". Ambos os crimes cometidos em 1998.

O despacho ainda menciona uma prisão em Porto Alegre por "contrabando e tenência de substâncias estupefacientes", além da identidade falsa. Além disso, em 1999, Neira Barreiro e Mendieta foram presos, na Capital, por suposta participação em assaltos a carros-forte.

Krischke comenta que "é comum que ex-militantes de grupos de extrema direita praticassem crimes comuns, depois do regime militar". Neira Barreiro teria militado no grupo Juventude Uruguaia de Pé (JUP) e, mais tarde, teria se tornado agende radiotécnico (responsável pela implantação de escutas telefônicas e ambientais) da polícia uruguaia.

O presidente do MJDH conta que, depois da prisão, o uruguaio o procurou alegando que estava sofrendo perseguição política de autoridades ligadas ao período da ditadura militar uruguaia. Por isso, teria fugido ao Brasil. Contudo, Neira Barreiro jamais conseguiu comprovar que estava sendo perseguido.

Tanto que, no acordão do STF, o ministro Néri da Silveira diz que "os requeridos são acusados de crimes comuns, não havendo elementos que, mesmo remotamente, possam dar suporte à tese de perseguição política".

Quando foi preso nesta semana, havia dois mandados de prisão contra o Neira Barreiro, conforme explicou a delegada Andrea: um emitido pelo ministro do Supremo Tribunal de Federal (STF) Gilmar Mendes, solicitando à Interpol a prisão do uruguaio; e outro emitido pelo Judiciário gaúcho, em Gravataí, que prevê prisão até 2026.

"Ele deveria se apresentar periodicamente à Justiça, mas, desde 2009, ele não se apresenta, não dá bola para isso", comentou ?Krischke. Neira Barreto foi encaminhado ao Presídio Central e ficará à disposição da Justiça. Não está descartada a possibilidade de extradição.

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